Jornal Médico - Adolfo Rubinstein, presidente da CIMF

Na Am&eacute;rica Latina o grau de desenvolvimento da Medicina Familiar e Comunit&aacute;ria &eacute; muito diverso. Depende, essencialmente, das caracter&iacute;sticas socioecon&oacute;micas, pol&iacute;ticas, &eacute;tnicas e culturais dos diferentes pa&iacute;ses. Segundo Adolfo Rubinstein, presidente da Confedera&ccedil;&atilde;o Ibero-Americana de Medicina Familiar, o pior &eacute; que, na maioria dos casos, trinta anos depois da Confer&ecirc;ncia de Alma Ata, ainda n&atilde;o existe uma vis&atilde;o clara da necessidade de organizar os sistemas de sa&uacute;de com base nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios Na Am&eacute;rica Latina o grau de desenvolvimento da Medicina Familiar e Comunit&aacute;ria &eacute; muito diverso. Depende, essencialmente, das caracter&iacute;sticas socioecon&oacute;micas, pol&iacute;ticas, &eacute;tnicas e culturais dos diferentes pa&iacute;ses. Segundo Adolfo Rubinstein, presidente da Confedera&ccedil;&atilde;o Ibero-Americana de Medicina Familiar, o pior &eacute; que, na maioria dos casos, trinta anos depois da Confer&ecirc;ncia de Alma Ata, ainda n&atilde;o existe uma vis&atilde;o clara da necessidade de organizar os sistemas de sa&uacute;de com base nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios Jornal M&eacute;dico de Fam&iacute;lia - Qual &eacute; o posicionamento da Confedera&ccedil;&atilde;o Ibero-Americana de M&eacute;dicos de Fam&iacute;lia (CIMF) na WONCA Mundial? Adolfo Rubinstein &ndash; A CIMF foi criada em 1982, ou seja, j&aacute; tem mais de 25 anos. At&eacute; 2004, a WONCA, enquanto organiza&ccedil;&atilde;o mundial dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia, n&atilde;o possu&iacute;a um grupo representativo dos pa&iacute;ses latino-americanos. A CIMF, que entretanto se tinha tornado uma organiza&ccedil;&atilde;o internacional que englobava todas as sociedades dos pa&iacute;ses latino-americanos, al&eacute;m de Espanha e Portugal, iniciou as negocia&ccedil;&otilde;es com a WONCA no final dos anos 90. Dessas negocia&ccedil;&otilde;es resultou a incorpora&ccedil;&atilde;o da CIMF como sexta regi&atilde;o mundial da WONCA. Desde 2004, a WONCA Ibero-Americana engloba todas as sociedades de Medicina Familiar da Am&eacute;rica Latina, assim como Espanha e Portugal. O papel de Espanha e Portugal &eacute; muito importante, na medida em que t&ecirc;m uma dupla vincula&ccedil;&atilde;o &agrave; WONCA Europa e &agrave; WONCA Ibero-Americana. Constituem uma esp&eacute;cie de ponte entre a Europa e a Am&eacute;rica Latina. Como come&ccedil;ou o movimento de forma&ccedil;&atilde;o da CIMF? No in&iacute;cio chamava-se Centro Internacional de Medicina Familiar. Tratava-se, fundamentalmente, de um grupo de apoio para o desenvolvimento da Medicina Familiar na Am&eacute;rica Latina e tamb&eacute;m em Espanha e Portugal. Repare-se que estamos a falar do in&iacute;cio dos anos 80, quando a especialidade ainda n&atilde;o existia. A partir de 1996, transformou-se numa organiza&ccedil;&atilde;o de sociedades. J&aacute; n&atilde;o era um grupo que impulsionava o desenvolvimento da Medicina Familiar, mas uma organiza&ccedil;&atilde;o com representa&ccedil;&atilde;o institucional. O passo seguinte foi a sua incorpora&ccedil;&atilde;o na WONCA Mundial. Qual &eacute; o papel da Confedera&ccedil;&atilde;o na Wonca Mundial? Na minha qualidade de presidente regional da WONCA Ibero-Americana, tenho assento no conselho executivo mundial e participo em todas as inst&acirc;ncias da WONCA. Essencialmente, o que se pretende &eacute; que haja uma voz que represente a realidade de pa&iacute;ses menos desenvolvidos. Como todas as organiza&ccedil;&otilde;es mundiais, em geral, a WONCA tem um forte dom&iacute;nio anglo-sax&oacute;nico. &Eacute; importante que latinos e hispanos estejam presentes para falar das realidades dos seus pa&iacute;ses. O conceito de Medicina Familiar surgiu com Alma Ata. Mas quando come&ccedil;ou, de facto, a desenvolver-se na Am&eacute;rica Latina? Na Argentina, por exemplo, o verdadeiro desenvolvimento da Medicina Familiar teve lugar nos &uacute;ltimos dez anos. A Am&eacute;rica Latina &eacute; um continente muito heterog&eacute;neo no que diz respeito &agrave;s suas realidades socioecon&oacute;micas, pol&iacute;ticas, &eacute;tnicas e culturais e isso tem repercuss&otilde;es ao n&iacute;vel do desenvolvimento da Medicina Familiar e Comunit&aacute;ria. Existem pa&iacute;ses, como Cuba ou Costa Rica, onde a especialidade est&aacute; muito desenvolvida e outros onde se encontra em franco crescimento, como &eacute; o caso do Brasil. E qual &eacute; o ponto da situa&ccedil;&atilde;o na Argentina? Na Argentina, o principal problema &eacute; que o sistema de sa&uacute;de &eacute; muito fragmentado. A Seguran&ccedil;a Social cobre cerca de 60% da popula&ccedil;&atilde;o. Surge, em segundo lugar, um sector provincial, que abrange aproximadamente 30% e, por &uacute;ltimo, o sector privado, com 10%. Cada um destes subsectores encontra-se, por sua vez, muito fragmentado. A Seguran&ccedil;a Social, por exemplo, tem mais de 300 obras sociais. Isso faz com que seja mais dif&iacute;cil articular pol&iacute;ticas nacionais. Apesar de, em cada um dos subsectores, a Medicina Familiar e Comunit&aacute;ria estar em crescimento, n&atilde;o existe uma decis&atilde;o pol&iacute;tica un&iacute;voca relativamente &agrave; cria&ccedil;&atilde;o de um sistema nacional de sa&uacute;de. Naturalmente que teria que ser diferente do modelo portugu&ecirc;s, espanhol ou ingl&ecirc;s porque o desenvolvimento do sector da Sa&uacute;de, na Argentina, seguiu um percurso diferente. Mas seria desej&aacute;vel que houvesse uma melhor articula&ccedil;&atilde;o e integra&ccedil;&atilde;o entre todos os sectores. Quais s&atilde;o, em geral, as expectativas de desenvolvimento da especialidade de MGF nos 18 pa&iacute;ses latino-americanos representados na CIMF? N&atilde;o h&aacute;, em geral, decis&otilde;es pol&iacute;ticas claras sobre o desenvolvimento da especialidade de Medicina Familiar e Comunit&aacute;ria. Na Confedera&ccedil;&atilde;o Ibero-Americana de M&eacute;dicos de Fam&iacute;lia trabalhamos muito, com todos os pa&iacute;ses, no sentido de homogeneizar e harmonizar os objectivos da forma&ccedil;&atilde;o dos internos de Medicina Familiar. Em m&eacute;dia, o internato dura tr&ecirc;s anos e, fundamentalmente, os programas est&atilde;o bastante orientados para a aquisi&ccedil;&atilde;o de compet&ecirc;ncias nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, ou seja, os objectivos nucleares da especialidade s&atilde;o muito claros. Todavia, as realidades s&atilde;o muito diversas. Em termos gerais, diria que a realidade e a situa&ccedil;&atilde;o dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia latino-americanos n&atilde;o &eacute; nada favor&aacute;vel. Na maioria das vezes, trabalham sozinhos e em muitos pa&iacute;ses ainda n&atilde;o existe uma vis&atilde;o clara da necessidade de organizar os sistemas com base nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. Conhece a realidade portuguesa? Como avalia a reforma em curso nos nossos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios? A cria&ccedil;&atilde;o das unidades de sa&uacute;de familiar &eacute; uma iniciativa extremamente importante. Revela uma transforma&ccedil;&atilde;o do sistema nacional de sa&uacute;de, mais orientado para os cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. Penso que recolhe algumas experi&ecirc;ncias do Brasil, como o Programa de Sa&uacute;de da Fam&iacute;lia, que come&ccedil;ou a ser desenvolvido h&aacute; alguns anos atr&aacute;s. A reforma portuguesa &eacute;, de facto, muito importante, e possui caracter&iacute;sticas inovadoras muito interessantes.

Terceiro espaço

Mais lidas