Jornal Médico - Ser, ou não ser... Júri do exame final de Internato de MGF

Ao serem nomeados para integrarem o j&uacute;ri de avalia&ccedil;&atilde;o do exame final de Internato de Medicina Geral e Familiar, s&atilde;o muitos os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia que declinam o convite... Ao serem nomeados para integrarem o j&uacute;ri de avalia&ccedil;&atilde;o do exame final de Internato de Medicina Geral e Familiar, s&atilde;o muitos os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia que declinam o convite... Porque esta &eacute; uma tarefa extremamente absorvente, quando somada a uma carga assistencial j&aacute; de si muito pesada... Porque n&atilde;o v&ecirc;em qualquer recompensa na tarefa ou simplesmente por impeditivos de ordem pessoal... E tamb&eacute;m porque s&atilde;o in&uacute;meras as d&uacute;vidas - e vasto o desconhecimento - em torno dos crit&eacute;rios que regem estas nomea&ccedil;&otilde;es... O M&eacute;dico de Fam&iacute;lia foi ouvir, sobre a mat&eacute;ria, o que t&ecirc;m a dizer a direc&ccedil;&atilde;o do Col&eacute;gio de MGF, bem como alguns especialistas que j&aacute; integraram estes j&uacute;ris. Fic&aacute;mos a saber que a proposta de constitui&ccedil;&atilde;o dos referidos comit&eacute;s de avalia&ccedil;&atilde;o &eacute; da responsabilidade da direc&ccedil;&atilde;o do Col&eacute;gio de MGF da Ordem dos M&eacute;dicos que, sem sucesso at&eacute; &agrave; data, tem proposto a dispensa de servi&ccedil;o e a remunera&ccedil;&atilde;o deste trabalho Deveria ou n&atilde;o "tocar a todos" ser j&uacute;ri do exame de acesso &agrave; especialidade de Medicina Geral e Familiar (MGF)? E deveria haver um corpo permanente de j&uacute;ris experientes, de forma a conferir alguma equidade aos sucessivos momentos de avalia&ccedil;&atilde;o? Esta e outras quest&otilde;es relacionadas com a avalia&ccedil;&atilde;o final do Internato t&ecirc;m sido levantadas e debatidas por alguns m&eacute;dicos de fam&iacute;lia (MF), preocupados com os aspectos v&aacute;rios que condicionam esta importante fase do processo formativo em MGF. &Agrave;s cr&iacute;ticas generalizadas entre os cl&iacute;nicos de que muitos dos especialistas nomeados para j&uacute;ri recusam o convite porque, regra geral, s&atilde;o convocados "em cima da hora, quando muitas vezes j&aacute; t&ecirc;m as agendas cheias ou as f&eacute;rias marcadas (nomeadamente na &eacute;poca de Junho/Julho)", Lu&iacute;s Filipe Gomes, membro da direc&ccedil;&atilde;o do Col&eacute;gio de MGF da Ordem dos M&eacute;dicos (OM) responde: "O Col&eacute;gio apresenta a sua proposta de nomea&ccedil;&atilde;o sempre atempadamente e dentro dos prazos previstos por lei. O tempo que a proposta, depois de apreciada e aprovada pelo CNE, perde nas in&uacute;meras gavetas da administra&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o &eacute; imput&aacute;vel ao Col&eacute;gio ou &agrave; OM". Questionado pelo M&eacute;dico de Fam&iacute;lia, Lu&iacute;s Filipe Gomes explica como se processa a escolha do colectivo de avalia&ccedil;&atilde;o: "a proposta da constitui&ccedil;&atilde;o dos j&uacute;ris &eacute; da responsabilidade da Direc&ccedil;&atilde;o do Col&eacute;gio. Por acordo de cavalheiros estabelecido com as Coordena&ccedil;&otilde;es do Internato (por iniciativa da direc&ccedil;&atilde;o do Col&eacute;gio e visando a m&aacute;xima qualidade e exequibilidade do processo), a direc&ccedil;&atilde;o aceita a proposta das coordena&ccedil;&otilde;es para os presidentes do j&uacute;ri e respectivos suplentes (5+2). Um dos elementos &eacute;, obrigatoriamente, o orientador de forma&ccedil;&atilde;o do interno. Os elementos dos J&uacute;ris s&atilde;o indicados pela Ordem dos M&eacute;dicos e nomeados pelo secret&aacute;rio-geral do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de". Segundo Jos&eacute; Augusto Sim&otilde;es, MF da USF Marqu&ecirc;s de Marialva e orientador de forma&ccedil;&atilde;o, "h&aacute; uma enorme dificuldade em conseguir colegas que se disponibilizem para integrarem j&uacute;ris" e estas recusas constantes "atrasam ainda mais o processo de selec&ccedil;&atilde;o". Recusas s&atilde;o "irrespons&aacute;veis" Por&eacute;m, na pr&aacute;tica, s&atilde;o in&uacute;meras as vari&aacute;veis em jogo... De acordo com o MF algarvio, "os elementos dos j&uacute;ris de exame final do internato deveriam, por norma, ser orientadores de forma&ccedil;&atilde;o com experi&ecirc;ncia e conhecimentos na &aacute;rea da avalia&ccedil;&atilde;o, mas na realidade isso &eacute; imposs&iacute;vel... Estamos a falar de cerca de 40 j&uacute;ris por ano, cada um com sete elementos... Assim, s&atilde;o seleccionados pelo menos quatro dos elementos efectivos entre elementos com liga&ccedil;&atilde;o &agrave; forma&ccedil;&atilde;o, constantes de uma base de dados tanto quanto poss&iacute;vel actualizada (que, como se pode imaginar, n&atilde;o se obt&eacute;m com facilidade)". Acresce a este cen&aacute;rio j&aacute; de si complexo, que "apenas os especialistas em MGF podem fazer parte de um j&uacute;ri cuja miss&atilde;o &eacute; atribuir a especialidade. Ora, em Portugal, apenas s&atilde;o especialistas os inscritos nos col&eacute;gios de especialidade, sendo que a especialidade apenas &eacute; atribu&iacute;da pela Ordem dos M&eacute;dicos. Infelizmente, por raz&otilde;es esp&uacute;rias - e, na minha modesta opini&atilde;o, de forma irrespons&aacute;vel - um n&uacute;mero importante de m&eacute;dicos com forma&ccedil;&atilde;o em MGF n&atilde;o se inscreve no Col&eacute;gio de Especialidade de MGF da OM", o que deixa logo de fora um grande n&uacute;mero de potenciais candidatos. Acontece igualmente com frequ&ecirc;ncia, adiantou o tamb&eacute;m membro da Associa&ccedil;&atilde;o dos Doentes e Orientadores de Medicina Geral e Familiar (ADSO), "que colegas indigitados para fazerem parte de j&uacute;ris, se considerem naturalmente isentos por deterem lugares de nomea&ccedil;&atilde;o, por exemplo. Ou que pe&ccedil;am dispensa ao Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de, sendo esta autorizada, mas sem que seja transmitida qualquer informa&ccedil;&atilde;o ao Col&eacute;gio, o que origina previs&iacute;veis dificuldades de &uacute;ltima hora. Que, apesar de tudo, o Col&eacute;gio tenta resolver...". H&aacute; ainda o caso "frequente de colegas que se recusam pura e simplesmente a fazer parte de j&uacute;ris, com base em in&uacute;meras raz&otilde;es. E h&aacute; at&eacute; situa&ccedil;&otilde;es em que elementos da Direc&ccedil;&atilde;o do Col&eacute;gio s&atilde;o insultados por se terem atrevido a propor a nomea&ccedil;&atilde;o de fulano ou sicrano...", revelou, ao nosso jornal, Lu&iacute;s Filipe Gomes. Dispensa e remunera&ccedil;&atilde;o: um incentivo? Outra das raz&otilde;es que parece tornar a fun&ccedil;&atilde;o de jurado pouco aliciante &eacute; o facto de esta exigir uma "grande disponibilidade", uma vez que a carga de trabalho n&atilde;o &eacute; leve... "O jurado tem que avaliar e classificar todos os curricula (usualmente vastos) dos candidatos, o que exige muitas horas de trabalho, bem como participar nas tr&ecirc;s provas finais (curricular, pr&aacute;tica e te&oacute;rica). Sendo provas de execu&ccedil;&atilde;o demorada, ocupam muito tempo, sendo necess&aacute;rios, no m&iacute;nimo quatro dias para examinar cinco candidatos", esclarece Lu&iacute;s Filipe Gomes, salientando que "o trabalho dos membros dos j&uacute;ris, no que respeita &agrave; avalia&ccedil;&atilde;o meticulosa e ponderada dos curricula, n&atilde;o &eacute; compat&iacute;vel com o exerc&iacute;cio de qualquer outra actividade". Assim, advoga o cl&iacute;nico, "a dispensa de servi&ccedil;o deve necessariamente cobrir tamb&eacute;m alguns dias (dependendo, obviamente, do n&uacute;mero de curr&iacute;culos) antecipando a data dos exames. Tamb&eacute;m &eacute; necess&aacute;ria a dispensa de servi&ccedil;o para as indispens&aacute;veis reuni&otilde;es pr&eacute;vias dos j&uacute;ris. E evidentemente, para os dias de exame. Tal implica a completa cessa&ccedil;&atilde;o tempor&aacute;ria das fun&ccedil;&otilde;es assistenciais ou outras". De acordo com este membro da Direc&ccedil;&atilde;o do Col&eacute;gio de MGF da OM, esta estrutura "prop&ocirc;s veementemente a dispensa adequada de servi&ccedil;o e a remunera&ccedil;&atilde;o do trabalho de j&uacute;ri, sem sucesso at&eacute; &agrave; data". Segundo Jos&eacute; Augusto Sim&otilde;es, que j&aacute; tem alguma experi&ecirc;ncia enquanto jurado, "a dispensa de actividade &eacute; s&oacute; para a reuni&atilde;o do j&uacute;ri antes do exame e para os dias de exame. Fora desse tempo, mant&eacute;m-se toda a actividade assistencial, pelo que a leitura dos curr&iacute;culos, por vezes seis ou mais, faz-se &agrave; noite...". "Tamb&eacute;m n&atilde;o h&aacute; remunera&ccedil;&atilde;o extra, excepto as ajudas de custo quando nos deslocamos a um centro de sa&uacute;de fora da nossa &aacute;rea", aponta o MF de Cantanhede. Em algumas situa&ccedil;&otilde;es, "em que os membros do J&uacute;ri t&ecirc;m necessitam de alojamento, as despesas ultrapassam as ajudas de custo... J&aacute; para n&atilde;o falar de que cabe aos membros dos j&uacute;ris suportarem essas despesas e as de viagem, e s&oacute; posteriormente serem ressarcidos. Ou de quando se levantam quest&otilde;es com as Administra&ccedil;&otilde;es Regionais de Sa&uacute;de - que, em alguns casos, t&ecirc;m colocado dificuldades n&atilde;o s&oacute; a esse ressarcimento, mas at&eacute; &agrave; fundamental dispensa de servi&ccedil;o", lamentou Lu&iacute;s Filipe Gomes. Ser j&uacute;ri &eacute; uma experi&ecirc;ncia "enriquecedora" Apesar de todas as dificuldades, quem j&aacute; foi jurado garante que esta &eacute; uma experi&ecirc;ncia "enriquecedora e gratificante". "N&atilde;o s&oacute; pelo contacto com os outros elementos do j&uacute;ri (recordo &oacute;ptimas experi&ecirc;ncias e grandes oportunidades de aprendizagem com, por exemplo, a Dra. Graciete Andrade, em Coimbra, e a Dra. Dolores Quintal, no Funchal), com o pessoal de apoio (sempre disposto a ajudar!), mas tamb&eacute;m com os candidatos", refere o MF algarvio. "E aprendemos muito! N&atilde;o s&oacute; porque temos que nos preparar adequadamente, mas tamb&eacute;m porque temos uma oportunidade rara de conhecer, com alguma profundidade, as realidades e os problemas sentidos por colegas em contextos muito diversos daquele em que exercemos", adiantou, frisando que nada &eacute; compar&aacute;vel "ao prazer de encontrar &oacute;ptimos candidatos. Lembro-me do orgulho que senti na &uacute;nica vez que pude atribuir a classifica&ccedil;&atilde;o de 20 valores numa prova te&oacute;rica - &agrave; Dra. L&iacute;lia Santos, de Portim&atilde;o. E tamb&eacute;m quando encontramos candidatos com mais dificuldades, a oportunidade de os ajudarmos e apoiarmos &eacute; gratificante". Tamb&eacute;m Jos&eacute; Augusto Sim&otilde;es descreve a experi&ecirc;ncia de jurado como "positiva". De acordo com o cl&iacute;nico, "foi agrad&aacute;vel confrontar a minha pr&aacute;tica com a dos colegas mais novos e ver a sua desenvoltura". "Sendo n&oacute;s paladinos da MGF, &eacute; um prazer poder participar no processo que visa elevar os padr&otilde;es da sua pr&aacute;tica e assumir a nossa responsabilidade profissional, que n&atilde;o se esgota na pr&aacute;tica assistencial", conclui Lu&iacute;s Filipe Gomes.

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