Jornal Médico - Utentes organizam-se e reclamam mais MF

Os utentes do Centro de Sa&uacute;de de Alpiar&ccedil;a constituiram uma comiss&atilde;o... Perto de uma centena de utentes do Centro de Sa&uacute;de de Alpiar&ccedil;a reuniu-se no dia 1 de Fevereiro, na Casa do Povo daquela localidade, para constituir uma comiss&atilde;o de utentes. Neste plen&aacute;rio, foram eleitos dez representantes, mandatados para reivindicar direitos considerados fundamentais, nomeadamente a coloca&ccedil;&atilde;o de pelo menos mais tr&ecirc;s m&eacute;dicos de fam&iacute;lia no concelho Os utentes ribatejanos de Alpiar&ccedil;a decidiram, ap&oacute;s um encontro bem concorrido, resumir no texto de uma mo&ccedil;&atilde;o todas as suas exig&ecirc;ncias para a melhoria dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios na regi&atilde;o. O documento, no qual se alude &agrave;s defici&ecirc;ncias de atendimento no Centro de Sa&uacute;de (CS) de Alpiar&ccedil;a, foi posteriormente enviado &agrave; autarquia de Alpiar&ccedil;a, Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de e Assembleia da Rep&uacute;blica (AR). Na vila corre tamb&eacute;m um abaixo-assinado, no qual se reclama o acesso universal a cuidados de qualidade, entendidos como direito constitucional. Pede-se, ainda, a reabertura das extens&otilde;es de Frade de Cima e Frade de Baixo, encerradas em 1998. O abaixo-assinado conta j&aacute; com perto de 1600 assinaturas. Paula Matias, uma das representantes eleitas para dar voz &agrave; comiss&atilde;o de utentes, afirmou ao M&eacute;dico de Fam&iacute;lia que a prociss&atilde;o reivindicativa ainda vai no adro: "enquanto grupo de cidad&atilde;os, inici&aacute;mos apenas um processo de contactos junto de entidades competentes, no sentido de trazer mais MF para Alpiar&ccedil;a. Mais tarde, talvez possamos constituir-nos como organiza&ccedil;&atilde;o com estatuto legal". A mesma representante garante que no centro de sa&uacute;de (CS) est&atilde;o inscritos perto de 8200 utentes, dos quais 3277 n&atilde;o t&ecirc;m m&eacute;dico de fam&iacute;lia (MF) atribu&iacute;do: "temos somente dois m&eacute;dicos a tempo inteiro e um a tempo parcial. No final do m&ecirc;s de Fevereiro, a m&eacute;dica que est&aacute; a tempo parcial pretende reformar-se, o que agravar&aacute; a situa&ccedil;&atilde;o". No passado, a incapacidade para dar resposta aos utentes a descoberto levou mesmo a que fossem contratados v&aacute;rios profissionais a uma empresa privada de presta&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;os. Actualmente, tr&ecirc;s m&eacute;dicos deslocam-se ainda a Alpiar&ccedil;a para cumprir algumas horas de servi&ccedil;o por semana (contratados ou colegas de outros CS da regi&atilde;o). Popula&ccedil;&atilde;o pede envolvimento da autarquia &Eacute; vontade expressa da comiss&atilde;o de utentes envolver a edil de Alpiar&ccedil;a, Vanda Nunes, na angaria&ccedil;&atilde;o de mais m&eacute;dicos. "Em diversas localidades, percebemos que os presidentes de c&acirc;mara ou de junta de freguesia tomam a iniciativa de agitar &aacute;guas, quando n&atilde;o existem MF em n&uacute;mero suficiente. No nosso caso, tal n&atilde;o sucedeu. No entanto, decidimos que seria bom marcar uma reuni&atilde;o com a senhora presidente. S&oacute; assim poderemos expor as nossas dificuldades", afirma Paula Matias. A mesma representante avan&ccedil;a que, caso haja interesse, a autarquia pode, inclusive, integrar a comiss&atilde;o de utentes. Embora Paula Matias tenha concorrido &agrave;s &uacute;ltimas elei&ccedil;&otilde;es aut&aacute;rquicas nas listas da CDU - diga-se, a prop&oacute;sito, que outro dos representantes da comiss&atilde;o &eacute; Jo&atilde;o Os&oacute;rio, membro da Assembleia Municipal eleito pelo Partido Comunista - aquela cidad&atilde; garante que o grupo &eacute; independente de toda e qualquer for&ccedil;a pol&iacute;tica: "este &eacute; um movimento unit&aacute;rio. Re&uacute;ne, ali&aacute;s, muitas pessoas claramente afastadas da pol&iacute;tica. Seja como for, estamos dispostos a receber os apoios de todos os partidos que se queiram juntar a n&oacute;s". O convite &eacute; extens&iacute;vel a toda a popula&ccedil;&atilde;o, pelo que os interessados podem solicitar a ades&atilde;o &agrave; comiss&atilde;o sem grandes complica&ccedil;&otilde;es burocr&aacute;ticas. ARS conhece inconvenientes, mas diz que nada pode fazer Contactado pelo M&eacute;dico de Fam&iacute;lia, o director do CS de Alpiar&ccedil;a, H&eacute;lder Nunes, relembra que a situa&ccedil;&atilde;o est&aacute; longe de ser in&eacute;dita no Ribatejo: "o que acontece aqui &eacute; semelhante ao que ocorre em outros locais do distrito e do pa&iacute;s. N&atilde;o h&aacute; nenhum concelho, em redor de Alpiar&ccedil;a, onde n&atilde;o se registe, hoje, falta de m&eacute;dicos". O respons&aacute;vel frisa que j&aacute; estiveram a trabalhar em Alpiar&ccedil;a oito m&eacute;dicos em simult&acirc;neo, cen&aacute;rio que se foi alterando com os anos, sempre para pior: "devo dizer que dois destes colegas sa&iacute;ram do concelho, contra o nosso parecer, sem serem substitu&iacute;dos na devida altura. Desde ent&atilde;o, as coisas deterioraram-se. Quando a &uacute;ltima colega nos abandonou, para uma unidade de sa&uacute;de familiar (no Montijo), alert&aacute;mos a ARS. Seria dif&iacute;cil, com dois m&eacute;dicos a tempo inteiro e um a tempo parcial, dar uma resposta adequada". A m&eacute;dica de Alpiar&ccedil;a que se aposentar&aacute;, a breve trecho, desempenha actualmente fun&ccedil;&otilde;es de coordena&ccedil;&atilde;o ao n&iacute;vel formativo, pelo que n&atilde;o tem a seu cuidado uma lista completa. Ainda assim, deixar&aacute; um acr&eacute;scimo de 900 utentes sem MF atribu&iacute;do. Nesse cen&aacute;rio, restar&atilde;o os dois m&eacute;dicos do quadro e as horas semanais realizadas, de forma espor&aacute;dica, por tr&ecirc;s cl&iacute;nicos vindos de fora. "Ao n&iacute;vel dos pedidos de consulta, neste momento n&atilde;o atravessamos grandes dificuldades. Conseguimos dar resposta &agrave;s situa&ccedil;&otilde;es cl&iacute;nicas agudas, e tamb&eacute;m aos pedidos de MCDT e a outro tipo de situa&ccedil;&otilde;es prementes", garante H&eacute;lder Nunes. O corpo cl&iacute;nico conseguiu, tamb&eacute;m, criar alguma fideliza&ccedil;&atilde;o, junto dos utentes sem MF, ao n&iacute;vel da Sa&uacute;de Infantil. Tal permite que as crian&ccedil;as sejam observadas sempre pelo mesmo profissional de sa&uacute;de. Todas estas dilig&ecirc;ncias n&atilde;o impedem, no entanto, que mais de tr&ecirc;s mil pessoas permane&ccedil;am sem um acompanhamento personalizado. "Vejo esta limita&ccedil;&atilde;o como preocupante. Ali&aacute;s, todos estes problemas sobram para mim e para os restantes colegas, todos eles sobrecarregados. A ARS est&aacute; bem consciente do que se passa. H&aacute; dias ligaram-me para saber o que se passava e disseram-me que o problema n&atilde;o poderia ser resolvido, de imediato. S&oacute; quando estivesse definida legisla&ccedil;&atilde;o que permitisse contratos individuais de trabalho ", avan&ccedil;a o director daquele CS. Ou seja, nos pr&oacute;ximos meses ser&aacute; quase imposs&iacute;vel colocar em Alpiar&ccedil;a os dois ou tr&ecirc;s MF necess&aacute;rios para suprir as lacunas.

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