Jornal Médico - Quando a motivação supera “apertos”

A USF Gera&ccedil;&otilde;es tem tudo para singrar. Excepto um local condigno para desempenhar a sua miss&atilde;o... Nas grandes cidades, como Lisboa e Porto, o crescimento das unidades de sa&uacute;de familiar continua a ser lesado pela cr&oacute;nica falta de instala&ccedil;&otilde;es. O M&eacute;dico de Fam&iacute;lia apresenta um exemplo paradigm&aacute;tico, revelador de como para o arranque de novos projectos se torna importante uma dose consider&aacute;vel de gin&aacute;stica. A USF Gera&ccedil;&otilde;es &eacute; uma unidade planeada para o bairro de Benfica. Feita de gente motivada - a maior parte j&aacute; com experi&ecirc;ncia no novo modelo organizativo -, com possibilidade de retirar da exclus&atilde;o cl&iacute;nica mais de seis mil utentes a descoberto, a equipa tem tudo para singrar. Tudo... Excepto um local condigno para desempenhar a sua miss&atilde;o. Para j&aacute;, foram-lhe atribu&iacute;dos tr&ecirc;s pisos num pr&eacute;dio da Extens&atilde;o de Machado Carmona, com &aacute;reas ainda por desocupar Um estudo qualitativo publicado pela Miss&atilde;o para os Cuidados de Sa&uacute;de Prim&aacute;rios, intitulado "Sucessos e Problemas das Unidades de Sa&uacute;de Familiar", comprovou que na Regi&atilde;o de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) os tr&ecirc;s grupos profissionais - m&eacute;dicos, enfermeiros e administrativos - apontam os espa&ccedil;os e recursos f&iacute;sicos com um dos dez principais problemas para o desenvolvimento das unidades de sa&uacute;de familiar (USF). A mesma tend&ecirc;ncia relacionada com inadequa&ccedil;&atilde;o de instala&ccedil;&otilde;es (aferida neste estudo onde participaram 210 profissionais) foi assinalada por todos os grupos na Regi&atilde;o Centro e pelos enfermeiros do Alentejo e Algarve. Apenas no Norte a preocupa&ccedil;&atilde;o com o desarranjo dos espa&ccedil;os est&aacute; fora do top 10 dos obst&aacute;culos criados &agrave;s USF, consequ&ecirc;ncia evidente de um maior investimento em infra-estruturas de raiz, naquela parte do territ&oacute;rio. O pesadelo de uma casa a cair aos peda&ccedil;os, ou mais adaptada &agrave;s necessidades de uma reparti&ccedil;&atilde;o de finan&ccedil;as do que a um servi&ccedil;o de sa&uacute;de, &eacute; especialmente not&oacute;rio nas &aacute;reas metropolitanas de Lisboa e do Porto, onde o metro quadrado atinge pre&ccedil;os proibitivos e as estruturas do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de s&atilde;o for&ccedil;adas a improvisar. Mesmo no &acirc;mbito de uma reforma que se pretende exemplar, como a dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios (CSP). Em Benfica, fomos encontrar um grupo que tem tudo para iniciar, a breve trecho, um excelente trabalho: a USF Gera&ccedil;&otilde;es. &Agrave; segunda &eacute; de vez A Gera&ccedil;&otilde;es engloba seis m&eacute;dicos (tr&ecirc;s dos quais rec&eacute;m-especialistas, seis enfermeiros e cinco administrativos). No seio deste grupo, v&aacute;rios elementos j&aacute; detinham uma experi&ecirc;ncia de ambiente organizacional renovado, uma vez que integraram a USF Carnide Quer. Sa&iacute;ram porque n&atilde;o concordavam com a forma como a unidade perseguia os seus objectivos. Mas o gosto pela nova forma de trabalhar nunca desapareceu. A coordenadora da Gera&ccedil;&otilde;es, Isabel Nunes, recorda o que aconteceu de seguida: "fic&aacute;mos um pouco perdidos, cada um no seu s&iacute;tio. Por&eacute;m, aquelas metas e aquela motiva&ccedil;&atilde;o comuns n&atilde;o desapareceram. Trabalhar numa organiza&ccedil;&atilde;o diferente e com uma equipa coesa s&oacute; dependia de n&oacute;s. Percebemos que dev&iacute;amos formar a nossa pr&oacute;pria USF". Isa Nunes, administrativa, tamb&eacute;m passou pela Carnide Quer. Confessa que "a expectativa de trabalho em equipa e de inter-relacionamento" ficou aqu&eacute;m das expectativas e que os cuidados eram prestados ainda "de acordo com o modelo tradicional do CS". Assentar arraiais na Extens&atilde;o de Machado Carmona revelou-se ouro sobre azul, j&aacute; que o projecto permitir&aacute; dar m&eacute;dico de fam&iacute;lia (MF) a 6700 utentes. Relegada para as "alturas" Provisoriamente, ser&atilde;o cedidos ao grupo os tr&ecirc;s pisos superiores do edifico onde est&aacute; instalada a Extens&atilde;o de Sa&uacute;de da Marechal Carmona, um im&oacute;vel constru&iacute;do para outros fins, que n&atilde;o os da presta&ccedil;&atilde;o de cuidados de sa&uacute;de. Apesar da data inicial de abertura ter sido proposta para 15 de Mar&ccedil;o, quando o M&eacute;dico de Fam&iacute;lia visitou as futuras instala&ccedil;&otilde;es da unidade, era f&aacute;cil perceber que nada tinha sido feito para desocupar os espa&ccedil;os necess&aacute;rios e que a USF dificilmente poderia arrancar com mais do que dois pisos e meio. "Estas n&atilde;o s&atilde;o, de todo, as condi&ccedil;&otilde;es ideais para avan&ccedil;ar. A comunica&ccedil;&atilde;o entre os elementos da equipa est&aacute; claramente dificultada e teremos de abrir com uma imagem externa da USF que n&atilde;o corresponde &agrave; que desej&aacute;vamos. Mas a nossa vontade &eacute; tanta, que estamos dispostos a passar por cima de tudo isto. Contudo, depois de aceitarmos as condi&ccedil;&otilde;es m&iacute;nimas, &eacute; necess&aacute;rio que elas estejam realmente presentes!", declara Isabel Nunes. A enfermeira F&aacute;tima Santos salienta que a Gera&ccedil;&otilde;es tentar&aacute; destacar-se do que a envolve, nos primeiros tempos, atrav&eacute;s de pormenores de imagem: "j&aacute; que n&atilde;o pudemos tocar na estrutura f&iacute;sica (o pr&eacute;dio &eacute; alugado &agrave; Seguran&ccedil;a Social), vamos procurar alterar o que &eacute; poss&iacute;vel, mudando, por exemplo, as cores, que hoje obedecem a uma l&oacute;gica hospitalar. Ser&aacute; complicado entrar em pinturas, com t&atilde;o pouco tempo dispon&iacute;vel". Alterar a entrada (demasiado estreita), modificar o acesso atrav&eacute;s das longas escadas ou dos elevadores &eacute;, por ora, tarefa ut&oacute;pica. "Se ocorrer uma paragem cardio-respirat&oacute;ria num dos pisos superiores e tivermos que chamar o INEM, como ser&aacute; feita a evacua&ccedil;&atilde;o?", questiona a respons&aacute;vel da Gera&ccedil;&otilde;es. Aguentar at&eacute; ao limite... Isabel Nunes garante que o CS de Benfica e o Agrupamento em que este se integra j&aacute; iniciaram dilig&ecirc;ncias no sentido de encontrar instala&ccedil;&otilde;es definitivas para a Gera&ccedil;&otilde;es. Assim, j&aacute; ter&atilde;o sido desencadeados contactos entre a ARS de LVT, a Junta de Freguesia de Benfica e a C&acirc;mara Municipal de Lisboa, para definir uma solu&ccedil;&atilde;o a longo prazo. "At&eacute; cheg&aacute;mos a fazer uma proposta. Ficar&iacute;amos no mesmo terreno que os colegas da Rodrigues Migu&eacute;is, j&aacute; que h&aacute; espa&ccedil;o para construir instala&ccedil;&otilde;es para duas USF. As entradas teriam de ser separadas, &eacute; claro! Mas se for escolhido outro local, tamb&eacute;m n&atilde;o nos opomos", frisa a coordenadora. A equipa n&atilde;o sabe quanto tempo poder&aacute; aguentar numa situa&ccedil;&atilde;o de instala&ccedil;&atilde;o provis&oacute;ria. Promete, apenas, que tentar&aacute; ultrapassar as limita&ccedil;&otilde;es e que os utentes sentir&atilde;o as diferen&ccedil;as de tratamento, seja qual foi o meio envolvente. A enfermeira Sandra Isidoro sublinha que muitos dos doentes em cuidados continuados que acompanha n&atilde;o t&ecirc;m MF atribu&iacute;do e "est&atilde;o ansiosos para que a USF arranque. Eles querem ter MF e enfermeiros de fam&iacute;lia, seja num pr&eacute;dio ou noutro s&iacute;tio qualquer". Paulo Goucha era MF na USF CSI Seixal. Conseguiu, com alguma dificuldade, a mobilidade necess&aacute;ria para integrar a Gera&ccedil;&otilde;es e espera agora, no novo projecto, que haja condi&ccedil;&otilde;es para fazer jus ao melhor que os CSP t&ecirc;m para oferecer: "&eacute; essencial que exista espa&ccedil;o para que possamos desenvolver ac&ccedil;&otilde;es de promo&ccedil;&atilde;o da Sa&uacute;de. Preven&ccedil;&atilde;o j&aacute; n&atilde;o chega!". Caos tomou conta das grandes cidades Isabel Nunes garante que o grupo que coordena, pese embora o reduzido percurso do projecto, j&aacute; se aborrece com a demora: "tivemos de ultrapassar muitos obst&aacute;culos que n&atilde;o fazem sentido, em t&atilde;o curto espa&ccedil;o de tempo". Para Paulo Goucha, seria mais interessante que estas energias "fossem investidas em outras coisas mais importantes para as pessoas". Na &oacute;ptica do m&eacute;dico vindo do Seixal, tais dificuldades nem sequer existiriam se o planeamento das infra-estruturas de sa&uacute;de fosse realizado de forma ponderada, com o apoio do poder local.

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