Jornal Médico - Patient Safety: metade dos efeitos adversos em Medicina pode ser evitada

A Patient Safety, intimamente ligada &agrave; redu&ccedil;&atilde;o dos erros (ou desvios do resultado esperado) no sistema de sa&uacute;de, &eacute; o cerne da confer&ecirc;ncia inaugural do 26&ordm; Encontro, da autoria do prof. Jos&eacute; Fragata A seguran&ccedil;a dos doentes que recorrem aos cuidados m&eacute;dicos entrou na ordem do dia, sendo hoje uma das facetas da dimens&atilde;o da qualidade na Sa&uacute;de. A Patient Safety, intimamente ligada &agrave; redu&ccedil;&atilde;o dos erros (ou desvios do resultado esperado) no sistema de sa&uacute;de, &eacute; o cerne da confer&ecirc;ncia inaugural do 26&ordm; Encontro, da autoria do prof. Jos&eacute; Fragata. O objectivo &eacute; "minimizar as consequ&ecirc;ncias sobre os pacientes, melhorar a confian&ccedil;a e a reputa&ccedil;&atilde;o nos profissionais e nas institui&ccedil;&otilde;es e last but not least, reduzir custos e inefici&ecirc;ncias", explicou o catedr&aacute;tico ao nosso jornal. &Eacute; que tratar com complica&ccedil;&otilde;es sai muito mais caro... "Por todas estas raz&otilde;es, a seguran&ccedil;a dos doentes interessa a todos os interventores na Sa&uacute;de e deve ser preocupa&ccedil;&atilde;o primeira dos seus profissionais, a quem a lideran&ccedil;a desse controle dever&aacute; caber, como imperativo hipocr&aacute;tico e necessidade absoluta de controlo de performance". Segundo o catedr&aacute;tico, a ocorr&ecirc;ncia de danos colaterais "ocorre em cerca de dez em cada 100 internamentos - felizmente, a maior parte das vezes sem consequ&ecirc;ncias s&eacute;rias - mas estima-se que cerca de metade dos efeitos adversos em Medicina poderiam ter sido evitados". Al&eacute;m disso, "a ocorr&ecirc;ncia de danos &eacute; transversal a todas as especialidades mas mais prov&aacute;vel e potencialmente danosa nas de alto dom&iacute;nio tecnol&oacute;gico". 60% dos erros devem-se a causas humanas A ocorr&ecirc;ncia de eventos adversos em Medicina "tem, do lado do prestador, causas humanas (factores humanos) em cerca de 60 % dos casos, facilitadas por defeitos da organiza&ccedil;&atilde;o (factores do sistema) em 30 % dos casos, e causas indeterminadas, que poderemos atribuir &agrave; natureza incerta da Medicina na sua dimens&atilde;o de complexidade e que atribuiremos ao acaso", explica Jos&eacute; Fragata. A dimens&atilde;o equipa, "ponte entre os factores humanos e a organiza&ccedil;&atilde;o", contribui para a seguran&ccedil;a ou inseguran&ccedil;a dos cuidados, "num momento em que cada vez mais os resultados se atribuem ao desempenho das equipas e o treino na Sa&uacute;de se vai movendo cada vez mais dos indiv&iacute;duos para os grupos actuantes ou equipas". Na vertente da tarefa, "a dificuldade dos doentes (co-morbilidades, avan&ccedil;o das doen&ccedil;as), o tipo de interven&ccedil;&atilde;o e as condicionanes locais e do momento (staff, press&otilde;es, etc...) desempenham um papel fundamental para o resultado final". Visando a promo&ccedil;&atilde;o da seguran&ccedil;a, o prof. Fragata defende, fundamentalmente, "o desenvolvimento de uma verdadeira consci&ecirc;ncia de risco, nos profissionais e nas institui&ccedil;&otilde;es, que nos leve a reportar erros sem a tradicional atmosfera de culpa, antes como consequ&ecirc;ncias de um mau desenho organizacional que, numa perspectiva de aprendizagem e de responsabilidade, todos queremos melhorar". Em resumo, uma cultura de seguran&ccedil;a em "que aos doentes seja dada total revela&ccedil;&atilde;o do que com eles se passa de bem e, sobretudo, de mal, com verdade e responsabilidade, para que a confian&ccedil;a prevale&ccedil;a no sistema e nos actores. Isto em muito reduziria o agastamento e litiga&ccedil;&atilde;o que frequentemente rodeia os insucessos da Medicina". Seguran&ccedil;a dos doentes &eacute; o grande desafio da Medicina actual Na opini&atilde;o do catedr&aacute;tico "se mudarmos a cultura e a pr&aacute;tica conduziremos o exerc&iacute;cio da Medicina a uma fiabilidade que existe, por exemplo, na avia&ccedil;&atilde;o civil, onde desde cedo a gest&atilde;o de erros foi colectivamente assumida como oportunidade de aprendizagem e mecanismo de promo&ccedil;&atilde;o de maior seguran&ccedil;a". Jos&eacute; Fragata n&atilde;o tem d&uacute;vidas de que a dimens&atilde;o de Seguran&ccedil;a dos Doentes e a boa gest&atilde;o do seu risco se transformar&aacute; "no grande desafio diferenciador da Qualidade e Efici&ecirc;ncia entre pr&aacute;ticas m&eacute;dicas no s&eacute;culo XXI". Um desafio que "cumpre a n&oacute;s m&eacute;dicos liderar, interpretando mais do que o cl&aacute;ssico mandato hipocr&aacute;tico, um moderno dever de auto-regula&ccedil;&atilde;o e a dimens&atilde;o lata de profissionalismo, com que garantiremos os superiores interesses dos doentes que nos s&atilde;o confiados e, tamb&eacute;m, a independ&ecirc;ncia desta nobre profiss&atilde;o de Escul&aacute;pio". Quem &eacute; Jos&eacute; Fragata? Breves notas curriculares Jos&eacute; Fragata nasceu em 1953 e licenciou-se em Medicina em 1976. Fez a sua forma&ccedil;&atilde;o p&oacute;s-graduada em Portugal e no Reino Unido, tendo-se doutorado em Medicina em 1992 e agregado em cirurgia no ano de 1995. &Eacute; actualmente Chefe de Servi&ccedil;o da Carreira M&eacute;dica Hospitalar no Hospital de Santa Marta e director do Servi&ccedil;o, dirige a Unidade de Cirurgia Card&iacute;aca, Centro do Cora&ccedil;&atilde;o dos Hospitais CUF. &Eacute; ainda professor catedr&aacute;tico da Faculdade de Ci&ecirc;ncias M&eacute;dicas e regente da Cadeira de Cirurgia II Cirurgi&atilde;o card&iacute;aco desde 1985, desenvolve uma muito activa pr&aacute;tica cir&uacute;rgica, tendo como subespecialidade a cirurgia card&iacute;aca pedi&aacute;trica. Dedica ainda muito do seu tempo ao ensino e &agrave; investiga&ccedil;&atilde;o. Certificado pelo European Board of Thoracic and Cardiovascular Surgeons &eacute; membro de prestigiadas sociedades profissionais e autor de cerca de 150 comunica&ccedil;&otilde;es e de 40 trabalhos cient&iacute;ficos. Os seus interesses s&atilde;o, para al&eacute;m da cirurgia card&iacute;aca, a Gest&atilde;o da Sa&uacute;de, com &ecirc;nfase para a estratifica&ccedil;&atilde;o do risco cl&iacute;nico, a avalia&ccedil;&atilde;o da performance, a an&aacute;lise dos erros e a gest&atilde;o cl&iacute;nica. Est&aacute; neste momento associado ao INDEG/ ISCTE onde &eacute; docente e co-director do Programa de Mestrados na &aacute;rea da Sa&uacute;de.

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