Jornal Médico - Estimular a investigação nos CSP

Entre os t&oacute;picos quentes do pr&oacute;ximo Encontro Nacional estar&aacute;, com toda a certeza, o actual panorama da investiga&ccedil;&atilde;o nos CSP... Entre os t&oacute;picos quentes do pr&oacute;ximo Encontro Nacional estar&aacute;, com toda a certeza, o actual panorama da investiga&ccedil;&atilde;o nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. Desde j&aacute;, fica a promessa de que este ser&aacute; um dos pratos fortes do evento. Da investiga&ccedil;&atilde;o - um parente pobre nos centros de sa&uacute;de - dependem, a m&eacute;dio e longo prazo, v&aacute;rios indicadores de qualidade: qualidade de servi&ccedil;o, qualidade na forma&ccedil;&atilde;o, qualidade na decis&atilde;o, qualidade no que respeita &agrave; gest&atilde;o de recursos. Por isso, os organizadores da iniciativa est&atilde;o interessados em promover um amplo debate, capaz de esclarecer quais as condi&ccedil;&otilde;es ideais para o florescimento de um novo perfil de investigador: menos err&aacute;tico, mais protegido. Durante muitos anos, a investiga&ccedil;&atilde;o vocacionada para os cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios (CSP) foi quase inexistente; uma frac&ccedil;&atilde;o &iacute;nfima da actividade desenvolvida nos centros de sa&uacute;de (CS) portugueses. Mas paulatinamente, t&ecirc;m vindo a despontar projectos, ainda que a um ritmo demasiado lento para o potencial do sector. A Associa&ccedil;&atilde;o Portuguesa de M&eacute;dicos de Cl&iacute;nica Geral (APMCG) tem plena consci&ecirc;ncia de que este &eacute; um campo importante para a vitalidade profissional dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia (MF), pelo que, nos &uacute;ltimos anos, tem colocado especial &ecirc;nfase no trabalho produzido pelo seu N&uacute;cleo de Investiga&ccedil;&atilde;o. &Eacute; precisamente este n&uacute;cleo que prepara a mesa redonda dedicada &agrave; Investiga&ccedil;&atilde;o em CSP, que ter&aacute; lugar no grande audit&oacute;rio, logo ap&oacute;s a cerim&oacute;nia de abertura e a confer&ecirc;ncia inaugural, numa evidente demonstra&ccedil;&atilde;o do relevo que &eacute; dado ao assunto Os oradores convidados para esta mesa-redonda s&atilde;o Jaime Correia de Sousa, m&eacute;dico na USF Horizonte e docente da Escola de Ci&ecirc;ncias da Sa&uacute;de da Universidade do Minho - UM, Clara Fonseca, membro do N&uacute;cleo de Investiga&ccedil;&atilde;o da APMCG e respons&aacute;vel pelo sector de investiga&ccedil;&atilde;o na Coordena&ccedil;&atilde;o do Internato M&eacute;dico de MGF da Zona Norte, e Yonah Yaphe (m&eacute;dico de fam&iacute;lia, membro do EURACT e professor convidado da Escola de Ci&ecirc;ncias da Sa&uacute;de da UM). A modera&ccedil;&atilde;o da mesa ficar&aacute; a cargo de um elemento do N&uacute;cleo de Investiga&ccedil;&atilde;o da APMCG, a designar. Quem lidera? Segundo Clara Fonseca, a discuss&atilde;o dever&aacute;, tendencialmente, orientar-se para as responsabilidades no campo da investiga&ccedil;&atilde;o em CSP: "quem dever&aacute; incentivar e liderar a investiga&ccedil;&atilde;o em CSP? Ser&atilde;o preferencialmente as academias, as coordena&ccedil;&otilde;es do Internato ou os servi&ccedil;os de sa&uacute;de (CS e unidades de sa&uacute;de familiar)? Tamb&eacute;m ser&aacute; importante perceber o papel da APMCG, relativamente ao progresso da investiga&ccedil;&atilde;o". Pela forma como a pr&oacute;pria mesa-redonda est&aacute; pensada, &eacute; previs&iacute;vel que todas as vertentes da investiga&ccedil;&atilde;o sejam abordadas, de um modo transversal. Jaime Correia de Sousa - dadas as suas responsabilidades acad&eacute;micas - falar&aacute;, sobretudo, da investiga&ccedil;&atilde;o desenvolvida em fase pr&eacute;-graduada e dos projectos sa&iacute;dos do meio universit&aacute;rio. J&aacute; Clara Fonseca, enquanto respons&aacute;vel pela investiga&ccedil;&atilde;o no Internato, ir&aacute; apresentar &agrave; audi&ecirc;ncia as possibilidades que se abrem em torno da forma&ccedil;&atilde;o p&oacute;s-graduada e dos programas que neste momento decorrem, sob o &eacute;gide da Coordena&ccedil;&atilde;o do Internato de MGF da Zona Norte. Por seu lado, Yonah Yaphe explicar&aacute; como o MF, inserido no seu contexto profissional, pode desenvolver projectos interessantes ao n&iacute;vel da investiga&ccedil;&atilde;o. APMCG define estrat&eacute;gia para investiga&ccedil;&atilde;o No tempo reservado para debate ser&aacute; discutido o papel que APMCG dever&aacute; desempenhar na forma como a investiga&ccedil;&atilde;o em CSP &eacute; conduzida em Portugal. "Atendendo, inclusive, &agrave;s pessoas que participam directamente na mesa, ser&aacute; inevit&aacute;vel que se discuta que tipo de estrat&eacute;gia dever&aacute; a associa&ccedil;&atilde;o assumir no futuro", explica Clara Fonseca. S&atilde;o v&aacute;rios, os caminhos poss&iacute;veis. A APMCG poder&aacute; tornar-se, em primeira linha, numa entidade incentivadora de projectos, apoiar ao n&iacute;vel da consultoria t&eacute;cnica colegas que desejem explorar novas ideias ou, em alternativa, transformar-se ela pr&oacute;pria numa institui&ccedil;&atilde;o que procura de forma activa e trabalha novas linhas de investiga&ccedil;&atilde;o. "Este &eacute; um debate muito actual. O N&uacute;cleo de Investiga&ccedil;&atilde;o da APMCG vai passar a acompanhar mais de perto as actividades da European General Practice Research Network (EGPRN), a rede de investiga&ccedil;&atilde;o da WONCA, com a presen&ccedil;a de representantes nossos numa reuni&atilde;o que se realiza em Maio", esclarece Clara Fonseca. A associa&ccedil;&atilde;o mostra-se, assim, interessada em colher ensinamentos internacionais que possibilitem um r&aacute;pido crescimento da investiga&ccedil;&atilde;o em CSP em Portugal. Clara Fonseca relembra que h&aacute; um conjunto de mat&eacute;rias pr&aacute;ticas sobre investiga&ccedil;&atilde;o em CSP que deve de ser clarificado, de prefer&ecirc;ncia com o contributo da APMCG H&aacute; tamb&eacute;m quest&otilde;es pr&aacute;ticas que importa analisar e que constituem preocupa&ccedil;&otilde;es habituais dos MF. Clara Fonseca exemplifica algumas das d&uacute;vidas que afligem quem se aventura por estes trilhos: "&eacute; natural que as pessoas se questionem sobre v&aacute;rias mat&eacute;rias. Entre as quais a necessidade (ou n&atilde;o) da investiga&ccedil;&atilde;o ser desenvolvida durante o hor&aacute;rio normal, a utilidade de constituir grupos aut&oacute;nomos - dedicados a esta &aacute;rea - dentro dos servi&ccedil;os, ou as vantagens de uma contratualiza&ccedil;&atilde;o espec&iacute;fica, com as unidades de sa&uacute;de familiar". Para a representante do N&uacute;cleo de Investiga&ccedil;&atilde;o da APMCG, esta mesa-redonda &eacute;, sobretudo, uma oportunidade de ouro para "lembrar os colegas de que a investiga&ccedil;&atilde;o tamb&eacute;m faz parte das suas atribui&ccedil;&otilde;es enquanto MF; da sua miss&atilde;o. Trata-se de uma componente muito esquecida da actividade profissional, &agrave; qual &eacute; preciso imprimir &acirc;nimo ". N&atilde;o desperdi&ccedil;ar mais oportunidades Se o potencial de investiga&ccedil;&atilde;o nos CSP &eacute; enorme, &eacute; igualmente verdade que in&uacute;meras oportunidades se perderam, num passado recente, devido &agrave; pouca energia dispendida na concretiza&ccedil;&atilde;o de boas ideias. Esta &eacute;, pelo menos, a opini&atilde;o de Jaime Correia de Sousa. O docente da Escola de Ci&ecirc;ncias da Sa&uacute;de da UM v&ecirc; a sess&atilde;o de Vilamoura de uma forma pragm&aacute;tica: "vamos discutir com os colegas os mecanismos facilitadores da investiga&ccedil;&atilde;o e, sobretudo, como esta deve ser enquadrada no dia-a-dia, na pr&aacute;tica cl&iacute;nica. &Eacute; importante olhar para este tipo de actividades como algo de natural e integrado, n&atilde;o como um extra que &eacute; levado a cabo quando temos um tempinho livre". De acordo com este MF, &eacute; evidente que escasseiam, hoje, os est&iacute;mulos &agrave; investiga&ccedil;&atilde;o em CSP: "n&atilde;o h&aacute; tempo protegido para estas actividades, no seio do Servi&ccedil;o Nacional de Sa&uacute;de. Trata-se de um tempo que devia estar salvaguardado nos contratos dos profissionais, o que n&atilde;o acontece. Assim, quando a investiga&ccedil;&atilde;o se concretiza, &eacute; vista quase sempre como um quisto nos servi&ccedil;os, n&atilde;o como uma actividade digna e fundamental para o desenvolvimento da arte". Durante a sess&atilde;o do 26&ordm; Encontro dever&aacute; tamb&eacute;m vir &agrave; baila a necessidade de melhorar a qualidade e abrang&ecirc;ncia dos trabalhos cient&iacute;ficos. "Temos de deixar de lado os estudos pequenos - feitos por duas ou tr&ecirc;s pessoas - e caminhar no sentido de grandes estudos cooperativos, realizados por redes de profissionais (a trabalhar em unidades de sa&uacute;de familiar, ou nas universidades, por exemplo)", defende Jaime Correia de Sousa. Parcerias: caminho para o futuro? &Eacute; sabido que a APMCG procurou (de forma intermitente mas obstinada) manter viva a chama da investiga&ccedil;&atilde;o. Fruto dessa vontade &eacute; o n&uacute;cleo direccionado para esta &aacute;rea, criado em 2007, respons&aacute;vel por diversas confer&ecirc;ncias e mesas-redondas nos principais eventos da APMCG. O mesmo grupo esteve na origem da obra "Investiga&ccedil;&atilde;o Passo a Passo", publicada em Setembro de 2008. Este manual oferece a todos os MF que desejam envolver-se na investiga&ccedil;&atilde;o respostas simples e sistematizadas &agrave;s suas interroga&ccedil;&otilde;es. Para Jaime Correia de Sousa, &eacute; evidente que a investiga&ccedil;&atilde;o em CSP tem sido continuamente relegada para segundo plano Todavia, &eacute; desej&aacute;vel chegar mais longe. " A associa&ccedil;&atilde;o tem capacidade para fazer muito trabalho positivo. Pode, a t&iacute;tulo de exemplo, gerar linhas de investiga&ccedil;&atilde;o pass&iacute;veis de captar financiamento. Ou - talvez ainda mais interessante - dialogar com as autoridades de sa&uacute;de no sentido de se criarem instrumentos de apoio &agrave; investiga&ccedil;&atilde;o, como sejam bolsas ou tempos de servi&ccedil;o protegidos para determinadas equipas", aponta Jaime Correia de Sousa, que tamb&eacute;m defende a exist&ecirc;ncia de estruturas, profissionalizadas ou semi-profissionalizadas, que perdurem no tempo e que prestem apoio nas &aacute;reas da metodologia de investiga&ccedil;&atilde;o e da bioestat&iacute;stica: "derivariam, quem sabe, de uma parceria entre a APMCG, as Coordena&ccedil;&otilde;es dos Internatos e as universidades. Por que n&atilde;o fazer um instituto de investiga&ccedil;&atilde;o em conjunto, no qual a associa&ccedil;&atilde;o &eacute; um dos parceiros? Neste campo, &eacute; &oacute;ptimo que a associa&ccedil;&atilde;o se revele uma dinamizadora. O que n&atilde;o significa que tenha de fazer tudo sozinha e assumir o exclusivo da tarefa". Tal uni&atilde;o de esfor&ccedil;os seria proveitosa tamb&eacute;m ao n&iacute;vel dos financiamentos, por via de fundos comunit&aacute;rios, de projectos internacionais ou do apelo a funda&ccedil;&otilde;es e institui&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas e privadas. De resto, Jaime Correia de Sousa gostaria que a revitaliza&ccedil;&atilde;o do tema, em Vilamoura, tivesse o cond&atilde;o de influenciar a agenda da APMCG em meses vindouros: "a aten&ccedil;&atilde;o particular que a associa&ccedil;&atilde;o tem dedicado &agrave; reforma dos CSP - sem d&uacute;vida uma mat&eacute;ria importante - n&atilde;o deveria permitir que se deixasse cair uma &aacute;rea t&atilde;o relevante quanto a da investiga&ccedil;&atilde;o. Sinto que n&atilde;o tem existido suficiente empenhamento neste sector. Embora tenhamos de compreender que, muitas vezes, somos poucos para tanta solicita&ccedil;&atilde;o e que o tempo n&atilde;o chega para tudo".

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