Jornal Médico - Crise económica… DGS e ENSP vão vigiar e dar resposta aos mais necessitados

A Direc&ccedil;&atilde;o-Geral de Sa&uacute;de - em parceira com a Escola Nacional de Sa&uacute;de P&uacute;blica - criou uma unidade especial. Miss&atilde;o: preparar um sistema de alerta permanente para sinais de risco e o consequente acompanhamento m&eacute;dico e/ou social Para dar resposta aos efeitos do desemprego e de outras consequ&ecirc;ncias da actual crise econ&oacute;mica na sa&uacute;de dos portugueses, a Direc&ccedil;&atilde;o-Geral de Sa&uacute;de - em parceira com a Escola Nacional de Sa&uacute;de P&uacute;blica - criou uma unidade especial. Miss&atilde;o: preparar um sistema de alerta permanente para sinais de risco e o consequente acompanhamento m&eacute;dico e/ou social. Estes sinais, que ser&atilde;o monitorizados e actualizados mensalmente, estendem-se por &aacute;reas como a depress&atilde;o, a desnutri&ccedil;&atilde;o, a tuberculose, os maus-tratos ou o n&uacute;mero de receitas n&atilde;o aviadas nas farm&aacute;cias. Os chamados "novos pobres" constituem um dos grupos-alvo deste projecto A convic&ccedil;&atilde;o de que a actual crise financeira e econ&oacute;mica global ter&aacute; como consequ&ecirc;ncia um agravamento da Sa&uacute;de P&uacute;blica (SP) levou a Direc&ccedil;&atilde;o Geral de Sa&uacute;de (DGS) e a Escola Nacional e Sa&uacute;de P&uacute;blica (ENSP) a criarem um grupo de trabalho que pretende dar resposta &agrave;s v&iacute;timas deste cen&aacute;rio marcado, entre outros problemas, pelo desemprego e empobrecimento s&uacute;bito. Esta iniciativa, que envolver&aacute; muitos profissionais de sa&uacute;de - nomeadamente, e de uma forma mais directa, os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia (MF) e os enfermeiros da Linha de Sa&uacute;de P&uacute;blica - foi apresentada pelo director-geral da Sa&uacute;de, Francisco George, no passado dia 14, no decorrer do I Congresso Nacional de Sa&uacute;de P&uacute;blica, sublinhando que "os fen&oacute;menos de coes&atilde;o social n&atilde;o podem ser ignorados pela SP". Em declara&ccedil;&otilde;es ao M&eacute;dico de Fam&iacute;lia, Belmira Rodrigues, psic&oacute;loga da DGS e membro deste grupo de trabalho, explicou como ser&aacute; a resposta da Sa&uacute;de P&uacute;blica &agrave; crise econ&oacute;mica e social, notando que est&atilde;o previstas "duas situa&ccedil;&otilde;es distintas". A primeira, adiantou, "refere-se aos grupos populacionais de baixo n&iacute;vel socioecon&oacute;mico, pobreza e exclus&atilde;o, comunidades que j&aacute; est&atilde;o identificadas e com respostas estruturadas". Contudo, para os "grupos populacionais afectados pelo empobrecimento s&uacute;bito", que s&atilde;o "pessoas de mais dif&iacute;cil identifica&ccedil;&atilde;o", as autoridades reconhecem a "necessidade de novas respostas", sublinhou. Para j&aacute;, a DGS elaborou um conjunto de "respostas r&aacute;pidas" que passam por acompanhar os potenciais efeitos da crise ao n&iacute;vel da situa&ccedil;&atilde;o alimentar, da auto-estima (sa&uacute;de mental) e do acesso aos cuidados, adiantou a psic&oacute;loga ao nosso jornal. O objectivo &eacute; garantir as necessidades alimentares b&aacute;sicas, proteger as pessoas de doen&ccedil;as como a depress&atilde;o e dos comportamentos agressivos e identificar os indiv&iacute;duos com dificuldades no acesso a medicamentos essenciais. Para estes tr&ecirc;s objectivos, a DGS tem preparadas v&aacute;rias ac&ccedil;&otilde;es, como a cria&ccedil;&atilde;o de um menu de receitas baratas e a abertura das cantinas escolares aos fins-de-semana e durante per&iacute;odos de f&eacute;rias (ver caixa 1). Operacionaliza&ccedil;&atilde;o em marcha De acordo com Belmira Rodrigues, o projecto s&oacute; estar&aacute; a funcionar em pleno no terreno dentro de dois meses, numa estreita articula&ccedil;&atilde;o com a Seguran&ccedil;a Social, o que permitir&aacute; um mapeamento social das necessidades, com base num cruzamento entre os indicadores sociais e os indicadores de sa&uacute;de. Nessa fase, "os m&eacute;dicos de fam&iacute;lia (MF), os m&eacute;dicos nas urg&ecirc;ncias hospitalares e os profissionais da Linha Sa&uacute;de 24, ter&atilde;o um papel verdadeiramente crucial", adiantou a psic&oacute;loga, explicando que os 75 enfermeiros da referida linha telef&oacute;nica "v&atilde;o, em todo o pa&iacute;s, n&atilde;o s&oacute; identificar as fam&iacute;lias que precisam de ajuda, mas tamb&eacute;m as respostas existentes ao n&iacute;vel local". Para isso, os enfermeiros j&aacute; receberam forma&ccedil;&atilde;o espec&iacute;fica. J&aacute; os MF ser&atilde;o informados pela respectiva Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de (ARS) sobre as suas atribui&ccedil;&otilde;es neste projecto, que ter&aacute;, ainda, uma componente de investiga&ccedil;&atilde;o/ac&ccedil;&atilde;o da responsabilidade da ENSP. Em s&iacute;ntese, o que se pretende &eacute; ter um sistema de alerta permanente para sinais de risco e consequente acompanhamento m&eacute;dico e/ou social. Esses sinais ser&atilde;o monitorizados e actualizados mensalmente. "N&atilde;o pod&iacute;amos ter a periodicidade cl&aacute;ssica anual no que toca aos indicadores estabelecidos, porque queremos respostas r&aacute;pidas. Como tal, opt&aacute;mos por uma periodicidade mensal", explicou Belmira Rodrigues ao nosso jornal. M&eacute;dicos v&atilde;o propor menus saud&aacute;veis e baratos Os m&eacute;dicos v&atilde;o propor &agrave;s fam&iacute;lias menus saud&aacute;veis e baratos, com o objectivo de prevenir a m&aacute; alimenta&ccedil;&atilde;o das crian&ccedil;as, relacionada com a actual crise econ&oacute;mica. Para responder aos efeitos desta na sa&uacute;de dos portugueses, est&atilde;o previstas "medidas de conting&ecirc;ncia", sobretudo a n&iacute;vel da alimenta&ccedil;&atilde;o das fam&iacute;lias, em particular dos mais novos. "&Eacute; preciso assegurar que os portugueses comam bem, de forma equilibrada e com menos custos", defende Francisco George, esclarecendo que a DGS j&aacute; solicitou &agrave; Plataforma contra a Obesidade que preparasse "um conjunto de menus saud&aacute;veis, equilibrados e de baixo custo, que pudessem ser utilizados pelas fam&iacute;lias com mais dificuldades". Os menus ser&atilde;o disponibilizados em todas as unidades de sa&uacute;de p&uacute;blica, nos servi&ccedil;os de aconselhamento e atrav&eacute;s dos m&eacute;dicos, principalmente os de fam&iacute;lia. Exemplos internacionais: EUA lan&ccedil;am guia de sa&uacute;de mental on-line Perceber e limitar o impacto da crise econ&oacute;mica na sa&uacute;de das popula&ccedil;&otilde;es, nomeadamente no plano psicossocial e da Sa&uacute;de Mental, tem sido uma preocupa&ccedil;&atilde;o do Governo norte-americano. Neste sentido, a Administra&ccedil;&atilde;o dos Servi&ccedil;os de Sa&uacute;de Mental e Abuso de Subst&acirc;ncias (SAMHSA) publicou um manual on-line (http://www.samhsa.gov/) que visa ajudar a popula&ccedil;&atilde;o a identificar sintomas de doen&ccedil;as relacionadas com o stress induzido pela actual crise econ&oacute;mica. A SAMHSA alerta para os riscos de depress&atilde;o, ansiedade, abuso de drogas e comportamentos compulsivos (como comer e jogar em excesso), trazidos pelas incertezas econ&oacute;micas, tais como a amea&ccedil;a do desemprego e as perdas financeiras. Em &uacute;ltima an&aacute;lise, a crise pode levar a sentimentos de humilha&ccedil;&atilde;o e desespero, podendo provocar pensamentos de suic&iacute;dio, refere a ag&ecirc;ncia governamental norte-americana, citada jornal brasileiro a Folha On-line. Especialistas brasileiros est&atilde;o alerta "Antes, entend&iacute;amos que o adoecimento era resultado apenas de uma tend&ecirc;ncia do paciente. Mas hoje, a realidade est&aacute; a adoecer o homem", refere o psiquiatra Jos&eacute; Toufic Thom&eacute;, coordenador t&eacute;cnico sobre interven&ccedil;&otilde;es em situa&ccedil;&otilde;es de crise da Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Psiquiatria, para quem a inseguran&ccedil;a econ&oacute;mica promove o medo. "Desenvolvemos ent&atilde;o fantasias de amea&ccedil;as de perda, ligadas &agrave; morte e ao luto. Perdemos a nossa capacidade de produ&ccedil;&atilde;o, a nossa economia e at&eacute; a nossa identidade", aponta o especialista. Ari Timerman, presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de S&atilde;o Paulo, relembra que situa&ccedil;&otilde;es de stress, como erup&ccedil;&otilde;es vulc&acirc;nicas, terramotos, guerras, finais de campeonatos e crises econ&oacute;micas tamb&eacute;m aumentam o risco de enfarte. A produ&ccedil;&atilde;o de adrenalina (desencadeada pelo stress) leva a les&otilde;es nos vasos sangu&iacute;neos. "As placas de gordura podem romper-se e os seus elementos podem formar um co&aacute;gulo que obstrui a art&eacute;ria", explicou Timerman. "Pessoas sob stress tendem a fumar e a beber mais e a alimentar-se inadequadamente, e tudo isso aumenta o risco de doen&ccedil;a cardiovascular".

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