Jornal Médico - A complexidade da gestão da Saúde exige profissionais altamente qualificados

As ferramentas de gest&atilde;o utilizadas por outros sectores da economia, estiveram durante muito tempo arredadas da Sa&uacute;de... As ferramentas de gest&atilde;o que t&ecirc;m vindo a ser utilizadas com sucesso por outros sectores da economia, estiveram durante muito tempo arredadas da sa&uacute;de. Quem o afirma &eacute; Lu&iacute;s Velez Lap&atilde;o respons&aacute;vel pelo programa de forma&ccedil;&atilde;o dos directores executivos dos agrupamentos de centros de sa&uacute;de (PACES). O professor de Sistemas de Sa&uacute;de na Faculdade de Medicina do Porto (FMP), defende que a exist&ecirc;ncia de uma arquitectura em rede de unidades de sa&uacute;de (mais pr&oacute;ximas dos cidad&atilde;os), com sistemas de informa&ccedil;&atilde;o e de profissionais altamente qualificados, &eacute; vital para a sustentabilidade da reforma dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. Jornal M&eacute;dico de Fam&iacute;lia - Antes mesmo de ocuparem os respectivos lugares, os directores dos agrupamentos de centros de sa&uacute;de (ACES) come&ccedil;aram a receber forma&ccedil;&atilde;o espec&iacute;fica, direccionada para os cargos que iriam ocupar. &Eacute; uma iniciativa in&eacute;dita na Administra&ccedil;&atilde;o P&uacute;blica? Lu&iacute;s Velez Lap&atilde;o - E absolutamente inovadora, pelo menos em Portugal. Deve-se &agrave; vis&atilde;o da Miss&atilde;o dos Cuidados de Sa&uacute;de Prim&aacute;rios (MCSP). Creio que foram os seus respons&aacute;veis que tiveram a ideia de realizar este programa de forma&ccedil;&atilde;o, embora a responsabilidade de construir o programa e de dar corpo a este desafio seja minha, sempre em colabora&ccedil;&atilde;o com a MCSP. Desde o in&iacute;cio, a MCSP definiu, com muita clareza, o perfil dos directores executivos dos ACES, o que tamb&eacute;m &eacute; inovador e representa um novo paradigma de exig&ecirc;ncia e transpar&ecirc;ncia na Administra&ccedil;&atilde;o P&uacute;blica. &Eacute; interessante ver juntas pessoas de diversas sensibilidades pol&iacute;ticas a colaborar de forma muito construtiva. Na realidade, o papel da Miss&atilde;o tem sido essencial para a motiva&ccedil;&atilde;o da mudan&ccedil;a e por outro lado, o PACES tem permitido a liga&ccedil;&atilde;o, em rede, entre os diversos elementos e as organiza&ccedil;&otilde;es dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. &Eacute; de salientar ainda o esfor&ccedil;o, a coragem e a motiva&ccedil;&atilde;o dos m&eacute;dicos e gestores que agora come&ccedil;aram a ocupar os cargos de direc&ccedil;&atilde;o dos ACES. S&atilde;o pessoas com uma grande experi&ecirc;ncia nos servi&ccedil;os de sa&uacute;de e com enorme vontade de participar neste processo de mudan&ccedil;a, apesar do sacrif&iacute;cio que isso implica ao n&iacute;vel da sua vida privada. Como foi delineado o programa de forma&ccedil;&atilde;o e quais s&atilde;o os seus objectivos primordiais? J&aacute; tinha tido a experi&ecirc;ncia de cria&ccedil;&atilde;o de programas de gest&atilde;o inovadores na &aacute;rea do desenvolvimento das organiza&ccedil;&otilde;es de sa&uacute;de, nomeadamente na integra&ccedil;&atilde;o entre os hospitais de S. Jos&eacute; e Capuchos e no suporte ao desenvolvimento das Unidades Locais de Sa&uacute;de (ULS) do Norte Alentejano e do Baixo Alentejo. Fiquei deveras sensibilizado com a qualidade dos profissionais e a sua vontade de potenciar a ULS. A gest&atilde;o da sa&uacute;de tem o prop&oacute;sito bem definido de contribuir para tornar a Sa&uacute;de mais eficiente e mais eficaz, utilizando os recursos onde eles t&ecirc;m mais impacto. Neste contexto, de grande complexidade, as organiza&ccedil;&otilde;es de sa&uacute;de devem ser consideradas como sistemas vivos, onde os profissionais s&atilde;o capazes de gerar estrat&eacute;gias para lidar com o paradoxo, a diversidade e a incerteza atrav&eacute;s de mecanismos de interac&ccedil;&atilde;o entre os profissionais e com os cidad&atilde;os. O programa PACES, de forma&ccedil;&atilde;o dos directores executivos, visa responder &agrave;s necessidades das organiza&ccedil;&otilde;es de sa&uacute;de em rede, considerando-as sistemas complexos adaptativos dominados pela din&acirc;mica da "auto-organiza&ccedil;&atilde;o", manifestada pela interac&ccedil;&atilde;o pr&oacute;xima com o cidad&atilde;o. Isso implica outro tipo de lideran&ccedil;a e de gest&atilde;o que potencie a cria&ccedil;&atilde;o de zonas de aprendizagem (na governa&ccedil;&atilde;o cl&iacute;nica, na interac&ccedil;&atilde;o com o cidad&atilde;o e na gest&atilde;o) e de partilha de experi&ecirc;ncias, se poss&iacute;vel entre todos os ACES. A "auto-organiza&ccedil;&atilde;o" num ACES ou numa USF, envolvendo m&eacute;dicos, enfermeiros, t&eacute;cnicos e outros especialistas &eacute; essencial para encontrar os padr&otilde;es "emergentes" que ajudam a compreender a realidade e as necessidades dos doentes, bem como a reorganizar os servi&ccedil;os de modo a darem respostas mais ajustadas &agrave; procura. Ou seja, o director executivo deve potenciar no seu ACES uma din&acirc;mica de colabora&ccedil;&atilde;o e trabalho em equipa, se poss&iacute;vel at&eacute; com o cidad&atilde;o. Mas, como &eacute; que se processa a forma&ccedil;&atilde;o no terreno? Apesar de ser dirigida para a ac&ccedil;&atilde;o, alguns directores executivos de ACES criticam o seu conte&uacute;do excessivamente te&oacute;rico... A realidade n&atilde;o &eacute; essa. O curso foi desenhado para ser essencialmente pr&aacute;tico. Em todos os m&oacute;dulos s&atilde;o realizados projectos de grupo que abordam problemas reais. Para a disponibiliza&ccedil;&atilde;o desses projectos, utilizamos uma plataforma "e-learning" da Google que possibilita a partilha de documentos, ideias e conceitos, com o objectivo de criar um espa&ccedil;o de partilha e de colabora&ccedil;&atilde;o. Naturalmente que a forma&ccedil;&atilde;o necessita sempre de alguma sustenta&ccedil;&atilde;o te&oacute;rica mas o curso rege-se pelos princ&iacute;pios da forma&ccedil;&atilde;o/ac&ccedil;&atilde;o, pois sabemos que a melhor forma de aprender &eacute; utilizar os conhecimentos numa situa&ccedil;&atilde;o real. Ali&aacute;s, o livro de refer&ecirc;ncia do curso &eacute; o The Future of Management de Garry Hamel, que afirma que temos o desafio de "inventar novas formas de gest&atilde;o" e que se enquadra bem nesta nova organiza&ccedil;&atilde;o em rede que s&atilde;o os ACES. Neste processo de forma&ccedil;&atilde;o, foi tida em conta a experi&ecirc;ncia desenvolvida na antiga Sub-regi&atilde;o de Sa&uacute;de de Set&uacute;bal relativa &agrave; cria&ccedil;&atilde;o de projectos-piloto de agrupamentos de centros de sa&uacute;de? Na minha opini&atilde;o, a experi&ecirc;ncia dos agrupamentos de centros de sa&uacute;de liderada pelo ent&atilde;o coordenador da SRS de Set&uacute;bal foi essencial para demonstrar que era poss&iacute;vel. Convid&aacute;mos o Dr. Rui Monteiro para participar na primeira sess&atilde;o deste curso e as pessoas ficaram um pouco assustadas quando ele referiu que o processo demorou dois anos. Mas, &eacute; natural, os ACES v&atilde;o demorar algum tempo a estruturar-se. A equipa de formadores vai continuar a dar apoio aos dirigentes dos ACES quando terminar a forma&ccedil;&atilde;o? De que forma? At&eacute; ao final do ano, num ambiente de tutoria, algumas equipas de formadores v&atilde;o deslocar-se, com alguma periodicidade, aos ACES, para fazer o acompanhamento das situa&ccedil;&otilde;es mais prementes. Como a gest&atilde;o da sa&uacute;de &eacute; uma &aacute;rea ainda em desenvolvimento e com poucos investigadores, tivemos que ir buscar formadores a v&aacute;rias universidades para realizar um programa interessante. Com efeito, este projecto resulta de uma parceria com a Universidade do Porto, Instituto Superior T&eacute;cnico, Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, Unidade de Sistemas de Sa&uacute;de do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e a Escola Nacional de Sa&uacute;de P&uacute;blica. Para quando est&aacute; previsto o in&iacute;cio da forma&ccedil;&atilde;o dos respons&aacute;veis pela governa&ccedil;&atilde;o cl&iacute;nica dos ACES? Esta forma&ccedil;&atilde;o inicia-se a 7 de Maio. &Eacute; preciso criar grupos din&acirc;micos no Norte, Centro e Sul. Mais uma vez, o objectivo &eacute; criar uma rede de aprendizagem e de partilha, um espa&ccedil;o de reflex&atilde;o, para encontrar solu&ccedil;&otilde;es, trocar experi&ecirc;ncias e ideias e, sobretudo, potenciar uma nova cultura de governa&ccedil;&atilde;o cl&iacute;nica. Defende que a complexidade da sa&uacute;de obriga &agrave; exist&ecirc;ncia de uma arquitectura de sistemas e de profissionais altamente qualificados. Na realidade, diz mesmo que "a inexist&ecirc;ncia de informa&ccedil;&atilde;o impossibilita a gest&atilde;o". De que forma um sistema de informa&ccedil;&atilde;o da Sa&uacute;de desajustado, como &eacute; o nosso, pode condicionar o desenvolvimento dessas redes locais de conhecimento e mesmo os resultados dos ACES? Os sistemas de informa&ccedil;&atilde;o s&atilde;o um aspecto que tem que ser levado muito a s&eacute;rio. A utiliza&ccedil;&atilde;o apropriada e sustentada de sistemas de informa&ccedil;&atilde;o em Sa&uacute;de poder&aacute; contribuir de forma relevante para o bom desempenho das unidades de sa&uacute;de, n&atilde;o propriamente numa posi&ccedil;&atilde;o de puro condicionalismo dos colaboradores e utilizadores da institui&ccedil;&atilde;o mas sim propiciando, de forma evolutiva, condi&ccedil;&otilde;es para melhores cuidados de sa&uacute;de. Utilizar os recursos da Sa&uacute;de com intelig&ecirc;ncia e de forma hol&iacute;stica requer a integra&ccedil;&atilde;o dos sistemas de informa&ccedil;&atilde;o para que a informa&ccedil;&atilde;o esteja dispon&iacute;vel no momento e onde &eacute; preciso. S&atilde;o necess&aacute;rias duas condi&ccedil;&otilde;es para a sustentabilidade da reforma em termos de resultados pr&aacute;ticos. Uma delas tem a ver com o modelo de governa&ccedil;&atilde;o, que j&aacute; est&aacute; bastante consolidado com a cria&ccedil;&atilde;o dos ACES. A outra, passa pela exist&ecirc;ncia de um sistema de informa&ccedil;&atilde;o sofisticado, flex&iacute;vel e rigoroso. Na minha opini&atilde;o, os sistemas de informa&ccedil;&atilde;o s&atilde;o um dos pontos fracos do suporte aos ACES. Este ponto fraco j&aacute; tinha sido assinalado pela MCSP num relat&oacute;rio sobre o tema. S&oacute; vai ser poss&iacute;vel desenvolver um ACES se a sua organiza&ccedil;&atilde;o espelhar o fluxo de informa&ccedil;&atilde;o necess&aacute;rio para m&eacute;dicos, enfermeiros e restantes t&eacute;cnicos e colaboradores. Um verdadeiro sistema de informa&ccedil;&atilde;o n&atilde;o se baseia na tecnologia mas nas pessoas e no conhecimento que geram e na din&acirc;mica de aprendizagem. O problema &eacute; que muita gente ainda n&atilde;o percebeu que os sistemas de informa&ccedil;&atilde;o exigem trabalho profissional, investiga&ccedil;&atilde;o e desenvolvimento a m&eacute;dio e longo prazo e t&ecirc;m que acompanhar o desenvolvimento das organiza&ccedil;&otilde;es. Ali&aacute;s, como diz o Presidente da Rep&uacute;blica, Prof. Cavaco Silva, as institui&ccedil;&otilde;es da Administra&ccedil;&atilde;o P&uacute;blica devem potenciar a colabora&ccedil;&atilde;o com as universidades porque os investigadores podem ajudar a resolver problemas dif&iacute;ceis, em conjunto com os operadores no terreno e ao mesmo tempo formar os novos profissionais para trabalhar na sa&uacute;de. H&aacute; j&aacute; alguns casos de sucesso no desenvolvimento de SI, onde esta rela&ccedil;&atilde;o tripartida entre unidade de sa&uacute;de, empresa de SI e universidade est&atilde;o a dar excelentes resultados, reflectidos na qualidade de servi&ccedil;os ao cidad&atilde;o.

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