Jornal Médico - Mudanças gigantescas produziram contentamento relativo

A evolu&ccedil;&atilde;o do parque hospitalar em Portugal foi vertiginosa, &agrave; semelhan&ccedil;a das altera&ccedil;&otilde;es sentidas pela popula&ccedil;&atilde;o que serve... A evolu&ccedil;&atilde;o do parque hospitalar em Portugal foi vertiginosa, &agrave; semelhan&ccedil;a das altera&ccedil;&otilde;es sentidas pela popula&ccedil;&atilde;o que serve. Entre 1970 e 2008, o n&uacute;mero de doentes que recebeu alta de hospitais do Servi&ccedil;o Nacional de Sa&uacute;de quase triplicou. O n&uacute;mero de epis&oacute;dios de urg&ecirc;ncias registadas cresceu perto de nove vezes. Estes valores demonstram a capacidade de resposta incrementada dos hospitais, que no entanto continuam a ser vistos pelos portugueses como pouco lestos, na resposta &agrave;s listas de espera para cirurgia N&atilde;o h&aacute; como contestar o facto. Desde a cria&ccedil;&atilde;o do Servi&ccedil;o Nacional de Sa&uacute;de (SNS), os hospitais portugueses conseguiram diversificar a sua oferta e especializ&aacute;-la em diversos campos, equipar-se com tecnologia moderna e ganhar experi&ecirc;ncia cr&iacute;tica no tratamento da maioria das patologias que afligem os portugueses. Na realidade, todos os especialistas nacionais e internacionais concordam que estes servi&ccedil;os ter&atilde;o contribu&iacute;do decisivamente para a melhoria das taxas de mortalidade materna, neonatal e infantil, para o aumento da esperan&ccedil;a m&eacute;dia de vida e da pr&oacute;pria qualidade de vida dos cidad&atilde;os. Por&eacute;m, os hospitais do SNS continuam a ser encarados pelos utentes como vagarosos na resposta a um dos seus principais desafios: a cirurgia. Se &eacute; verdade que entre 2005 e 2008 a mediana da lista de espera para cirurgia baixou de 8,6 meses para 3,7 meses, esta redu&ccedil;&atilde;o continua a n&atilde;o colher aplausos, como esclarece o economista da Sa&uacute;de Jorge Sim&otilde;es: "&eacute; indesment&iacute;vel que existe um decr&eacute;scimo do tempo de espera, diminui&ccedil;&atilde;o que ainda n&atilde;o nos satisfaz. Ou seja, ainda n&atilde;o existe uma percep&ccedil;&atilde;o positiva, por parte dos portugueses, em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s listas de espera nos hospitais". O doutorado em Ci&ecirc;ncias da Sa&uacute;de pela Universidade Aveiro (presidiu tamb&eacute;m &agrave; Comiss&atilde;o para a Sustentabilidade do Financiamento do SNS) refor&ccedil;a ainda que os hospitais foram bastante prejudicados pela estrat&eacute;gia seguida ao n&iacute;vel da forma&ccedil;&atilde;o m&eacute;dica: "a forma&ccedil;&atilde;o m&eacute;dica &eacute; exemplo de uma pol&iacute;tica falhada, pelas restri&ccedil;&otilde;es que imp&ocirc;s entre 1985 e 1995. Note-se que em 1986 existiam 190 vagas para o primeiro ano dos cursos de Medicina, valor que ascendeu a 1614 vagas, j&aacute; em 2008". Contratualiza&ccedil;&atilde;o &eacute; boa pr&aacute;tica e veio para ficar A directora do Servi&ccedil;o de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Hospital de Santa Maria, Isabel do Carmo, destaca as pr&aacute;ticas de contratualiza&ccedil;&atilde;o que t&ecirc;m vindo a ser implementadas nos hospitais do SNS - em anos recentes - como uma f&oacute;rmula digna de elogios: "trata-se de uma concep&ccedil;&atilde;o inovadora, boa nos seus princ&iacute;pios gerais. Pelo contr&aacute;rio, antigamente distribu&iacute;am-se verbas de modo quase aleat&oacute;rio". Para esta endocrinologista, &eacute; fundamental que quem planeia a resposta hospitalar esteja em sintonia com as mudan&ccedil;as sociais e de comportamento. Tanto em mat&eacute;ria de vida, como de morte. Se 27% dos portugueses acabavam o seu ciclo de vida nos hospitais, no ano de 1981, essa cifra ascendeu em 2005 aos 49,8%. "As pessoas v&ecirc;m cada vez mais morrer aos hospitais. Assim, estas institui&ccedil;&otilde;es tornaram-se o nosso Ganges, uma realidade imposs&iacute;vel de ignorar", alerta Isabel do Carmo. Boa articula&ccedil;&atilde;o entre hospitais e CS est&aacute; longe da utopia Para Jorge Sim&otilde;es, &eacute; in&uacute;til esconder que existe um problema et&aacute;rio que ataca o SNS por dentro: "se em 1996, o pico de idade dos m&eacute;dicos de Medicina Geral e Familiar (MGF) se situava entre os 41 e os 45 anos, esse pico em 2007 deslocou-se para a faixa et&aacute;ria dos 56 aos 60 anos. S&atilde;o m&eacute;dicos que entram naquela fase da vida em que deixam de estar obrigados a fazer horas suplementares e de urg&ecirc;ncia. Isto contribui para a fraca acessibilidade dos utentes nos centros de sa&uacute;de (CS) e para maiores embara&ccedil;os nos servi&ccedil;os de urg&ecirc;ncia hospitalar". Na &oacute;ptica do economista da Sa&uacute;de, &eacute; &oacute;bvio que "os doentes classificados como n&atilde;o priorit&aacute;rios, nas urg&ecirc;ncias hospitalares, aparecem nos hospitais, muitas vezes, porque se verifica uma impossibilidade pr&aacute;tica dos m&eacute;dicos dos CS darem outro tipo de resposta". Relativamente a esta articula&ccedil;&atilde;o entre hospital e CS, Isabel do Carmo lembra o exemplo positivo do Centro Hospitalar de Lisboa Norte: "foram implantados postos de colheita nos CS, algo que permite ao Estado poupar dinheiro em despesas de laborat&oacute;rio. Gra&ccedil;as a novos processos de consulta e referencia&ccedil;&atilde;o, conseguimos tamb&eacute;m reduzir o n&uacute;mero de consultas desnecess&aacute;rias. Parece um Ovo de Colombo, mas acaba por resultar bem". Segundo estes dois espectadores atentos da evolu&ccedil;&atilde;o dos hospitais, seria prudente adoptar medidas, em diversas &aacute;reas, que tenderiam a facilitar a conviv&ecirc;ncia dos doentes com a oferta hospitalar. Jorge Sim&otilde;es avalia como vantajoso um refor&ccedil;o das compet&ecirc;ncias no campo das novas tecnologias, incentivando novos canais de comunica&ccedil;&atilde;o entre os cidad&atilde;os e os hospitais: "&eacute; verdade que recorremos &agrave;s novas tecnologias para tratarmos dos nossos impostos, para ler not&iacute;cias ou conversar com amigos. Mas quantos de n&oacute;s marcamos consulta atrav&eacute;s da Internet?". J&aacute; Isabel do Carmo considera que o retrato actual do SNS n&atilde;o &eacute; de todo desprez&iacute;vel, mesmo que haja espa&ccedil;o para aperfei&ccedil;oamentos por via de uma nova gera&ccedil;&atilde;o de gestores, utilizadores e profissionais de sa&uacute;de; "o SNS ainda &eacute; a j&oacute;ia da coroa da democracia portuguesa".

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