Jornal Médico - Tiago Villanueva: “Queremos que a AMP seja a revista científica com maior fator de impacto do mundo lusófono”

A revista científica publicada pela Ordem dos Médicos (OM) – a Acta Médica Portuguesa (AMP) – registou, em 2017, uma subida do Fator de Impacto (FI) de 0,498 para 0,581. Para o editor-chefe da publicação, Tiago Villanueva, trata-se de “um indicador de reconhecimento mundial, além de reforçar o critério de decisão dos autores na hora de submeterem os seus artigos para publicação". A larga experiência na edição e publicação médicas/científicas, nomeadamente o trabalho que desenvolveu na equipa do British Medical Journal (BMJ) – a que ainda se mantém atualmente ligado como editor-associado – permite ao jovem especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) traçar um objetivo que admite ambicioso, porém “realista”: tornar a AMP na publicação científica de maior impacto no universo dos PALOP. Num total de 154 revistas da mesma categoria – Medicina Geral e Interna –, a AMP posiciona-se em 131.º lugar no ranking mundial, sendo a única publicação entre as congéneres portuguesas com FI (desde 2010). Os dados foram avançados pela OM, numa altura em que AMP registou uma subida no seu FI de 0,498 para 0,581, referente ao ano de 2017. Com esta subida do FI – instrumento mundial que funciona como selo de garantia de qualidade – a revista científica publicada pela OM desde 1979 ganha reconhecimento. “É uma boa notícia para a AMP e para a OM, pois este é um indicador de reconhecimento mundial, além de reforçar o critério de decisão dos autores na hora de submeterem os seus artigos para publicação”, referiu o médico de família da USF Reynaldo dos Santos e editor-chefe da revista, Tiago Villanueva, em entrevista ao Jornal Médico. O FI é o instrumento utilizado na comparação de revistas científicas que avalia a importância relativa de cada uma de acordo com as citações recebidas pelos artigos publicados. Os valores do FI são anunciados anualmente, em junho, pelo Journal Citation Reports, e correspondem ao número de citações obtidas, durante 2017, pelos artigos publicados nos dois anos anteriores (2015 e 2016), dividido pelo total de artigos publicados nesses mesmos anos. O FI de 0,581 refere-se a um total de 133 citações de um universo de 229 artigos publicados. Com larga experiência na edição e publicação científicas e médicas, nomeadamente enquanto colaborador do BMJ em Inglaterra, Villanueva coordena a AMP desde o ano passado, pelo que atribui o mérito desta subida no FI ao “excelente trabalho realizado pelas equipas lideradas pelo anterior editor-chefe, o professor Rui Tato Marinho”, ao mesmo tempo que agradece a todos os autores que têm preferido publicar na AMP. O FI é um dos primeiros critérios a ter em conta pelos autores na altura de submeterem artigos para publicação. “Quanto melhor for a nossa posição no ranking, melhores serão os trabalhos que vamos atrair”, explica Tiago Villanueva, acrescentando que a revista científica com maior FI (cerca de 80) é a New England Journal of Medicine (NEJM) e sublinhando que “o FI de uma revista pequena é muito sensível a pequenas variações: basta haver uma diferença de 10 ou 20 citações, como aconteceu este ano, para que o FI oscile negativa ou positivamente”. A chegada de Tiago Villanueva à AMP imprimiu algumas mudanças na dinâmica da publicação. Desde logo, a profissionalização (com remuneração indexada ao cargo) da figura do editor-chefe. Dado que o jovem médico de família não queria deixar de lado a prática assistencial, outra das condições para ocupar o cargo de editor-chefe da AMP era a possibilidade de “ficar a meio tempo no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, o que acabou por acontecer na unidade de saúde familiar onde exerce, em Santa Iria. O responsável da AMP acredita que só com a profissionalização dos recursos é possível crescer e atingir os objetivos pretendidos. Assim sendo, para além da pequena equipa editorial fixa que a revista tem na OM, Villanueva recrutou dois editores-chefes adjuntos seniores (um dos quais ainda não remunerado), bem como alguns colegas para editores associados, estes últimos em regime de voluntariado, uma vez que “ainda não tenho orçamento para remunerá-los, como desejaria”, diz. A estratégia para o crescimento passa, à cabeça, por “atrair os melhores autores e os artigos com as temáticas mais relevantes”, explica o editor-chefe da AMP, acrescentando que se pretende que os artigos publicados na revista não só contribuam para a formação contínua dos médicos, como tenham um impacto na agenda política de saúde. “Recentemente, publicámos um artigo sobre a utilização medicinal de canábis, da autoria do Dr. Ricardo Batista Leite, médico e deputado, que foi citado pelo ministro da Saúde e discutido no Parlamento e na comunicação social”, salientou Tiago Villanueva, afirmando que “este é o tipo de resultados que pretendemos, porque quanto mais atuais, importantes e relevantes forem os temas, maior é a probabilidade de as pessoas citarem esses artigos nos seus trabalhos”. Outra aposta estratégica deste editor-chefe consiste no trabalho de outreach, que consiste em ir ao terreno, junto dos médicos e investigadores, dar a conhecer a revista, mas também “ir à caça” de trabalhos. Algo que uma publicação como o BMJ faz à escala global, com editores espalhados pelo mundo inteiro, porque tem recursos e orçamento para tal. De acordo com Villanueva, “o grande público da AMP será sempre Portugal. Somos acima de tudo uma revista portuguesa, mas se conseguirmos atrair bons trabalhos internacionais… isso é fantástico”. Os PALOP, a começar pelo Brasil – por ser dos países neste universo que tem mais produção científica – são um território naturalmente atrativo para a AMP. Daí que, para Villanueva, não seja particularmente ambicioso como objetivo a médio prazo “fazer da AMP a revista científica com maior fator de impacto do mundo lusófono”.

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