Jornal Médico - Joaquim Moita: Fim da hora de inverno será preocupante para crianças e adolescentes

O médico Joaquim Moita alerta que o fim da hora de inverno será preocupante sobretudo para as crianças e adolescentes, uma vez que passam a acordar e a ir para as aulas ainda de noite. A Comissão Europeia vai propor o fim da mudança de hora, após ter sido essa a vontade da grande maioria dos europeus. Caso a medida seja aprovada, deixa de haver distinção entre o horário de verão e o horário de inverno. Em declarações à agência Lusa, o clínico, que dirige o Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e a Associação Portuguesa do Sono, lembrou que o cérebro humano precisa de exposição à luz solar para acordar devidamente. “Se acabar a hora de inverno, entre os meses de novembro e janeiro iremos estar às 08:15 ainda com noite escura”, frisa o especialista, lembrando que a esta hora muitas das crianças e adolescentes já estão a ter aulas ou pelo menos a caminho da escola. “O resultado não será benéfico e o desempenho cognitivo e físico podem ficar comprometidos. As crianças e os adolescentes já deviam ir bem acordados para a escola e, para acordar bem, o cérebro precisa de exposição ao sol, à luz solar”, explica Joaquim Moita. O especialista em medicina do sono frisou que uma das regras básicas da higiene do sono é precisamente levantar à mesma hora e procurar a exposição solar. “Os mesmos problemas também se podem aplicar ao mundo do trabalho. É muito preocupante para as faixas etárias mais jovens, mas também para quem já trabalha”, indicou. Joaquim Moita considera que existem vantagens em manter a hora de inverno e considera que as alterações entre hora de verão e hora de inverno não constituem qualquer problema médico, até porque o organismo se adapta facilmente a estas mudanças de horário. O médico lembrou, ainda, que a população portuguesa já dorme pouco, alertando que o fim da hora de inverno pode prejudicar ainda mais o descanso, o número de horas de sono e a forma como se desperta. A grande maioria dos europeus (84%) mostrou-se a favor do fim da mudança de hora na consulta pública realizada este verão, adiantam os resultados preliminares divulgados pela Comissão Europeia. Os resultados foram publicados, hoje, pelo executivo comunitário, sendo que os resultados finais serão divulgados “nas próximas semanas”. Estes dados revelam que os portugueses estão em linha com a média europeia, dado que 85% defenderam o fim da mudança de horário. Esta foi a consulta pública mais participada de sempre, com mais de 4,6 milhões de contributos oriundos de todos os Estados-membros. A maior taxa de participação foi a da Alemanha (3,79%), onde o assunto foi particularmente mediatizado. Estes dados preliminares, “indicam também que mais de três quartos (76%) dos participantes consideram que mudar de hora duas vezes por ano é uma experiência «muito negativa» ou «negativa»”, e “como justificação do desejo de pôr fim a estas regras alegam o impacto negativo na Saúde, o aumento de acidentes de viação ou a falta de poupanças de energia”.

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