Jornal Médico - Livre de tarefas burocráticas não-assistenciais, assim será a prática clínica do futuro

Atualmente, os médicos assumem – muito mais do que desejariam – a realização de tarefas burocráticas não-assistenciais, que lhes roubam grande parte do tempo de consulta. Este problema, identificado no workshop “Clínica do futuro” - e salientado em entrevista ao Jornal Médico pelo dermatologista Rui Tavares Bello, um dos participantes na sessão (ver caixa) - é um dos que mais inquina a prática clínica dos dermatologistas, que veem na tecnologia um forte aliado para a sua resolução. “A IA e outras ferramentas tecnologicamente inovadoras podem ter um importante papel na facilitação da captação de dados através, por exemplo, da conversão de ordens vocais (num modelo Siri-like) em tarefas, ou da capacidade de centralizar essas informações numa única plataforma de baixa exequibilidade e alto impacto”, refere João Maia e Silva. O dermatologista foi um dos facilitadores deste workshop, onde outra das soluções encontradas para reduzir a carga de tarefas burocráticas assumida pelos clínicos se prendeu com a criação de um health manager – “uma pessoa ou processo informatizado (ao nível do apoio de secretariado clínico) que permitisse fazer as tarefas não-médicas que hoje são este profissionais acabam por fazer”, explica o especialista. Por sua vez, Pedro Andrade, destaca que “em termos de melhorias, debateu-se a mais-valia do desenvolvimento de um aplicativo universal, que fosse acessível para todos os clínicos, independentemente de onde trabalhem (público/privado, num grande centro/pequeno consultório) e que, de alguma forma, sintetizasse e permitisse numa única plataforma o acesso a toda a documentação referente à prática médica: desde atestados, registos clínicos, prescrições, teleconsultas, isto é, tudo aquilo que implicasse um acesso digital”. Para o dermatologista, “está é um ponto que tem que ser melhorado não no futuro, mas no imediato”. No geral, “todos estamos de acordo com os avanços tecnológicos – até porque essa é uma inevitabilidade – e estamos dispostos a entrar nesse ‘comboio’, sempre com a noção de que não nos devemos demitir da responsabilidade e tomar as rédeas da situação nas nossas mãos, para que essa tecnologia seja utilizada a nosso favor (e dos doentes) e da forma correta”, advoga Pedro Andrade. Olhando para o futuro, tendo em conta as particularidades da realidade portuguesa, Pedro Andrade não hesita em afirmar que a maior parte destas soluções tecnológicas serão muito fácies de “encaixar” a nível nacional, uma vez que “somos conhecidos por, de alguma forma, termos muita permeabilidade à tecnologia”. MED/298/112020

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