Jornal Médico - Pneumologistas apelam para maior acesso à reabilitação respiratória e formação dos profissionais

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia alerta que menos de 0,5% dos doentes com indicação para reabilitação respiratória têm acesso a programas e diz que é preciso aumentar o conhecimento e formação dos profissionais, bem como o financiamento. Num comunicado divulgado a propósito do Dia Nacional da Reabilitação Respiratória, que se assinala dia 21 de abril, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) sublinha a importância de “aumentar o conhecimento e formação dos profissionais, dos doentes, melhorar a acessibilidade aos programas, em aspetos como o transporte, acesso à internet, financiamento e reembolsos e aumentar a oferta dos programas em todos os setores do sistema de saúde”. De acordo com as pneumologistas Susana Clemente e Inês Faria, “o financiamento insuficiente e o grande desconhecimento sobre as mais-valias desta terapêutica por parte dos profissionais de saúde, dos sistemas de saúde/seguradoras, dos doentes e da população em geral são as principais barreiras”. As duas especialistas sublinham ainda a “diminuta disponibilidade de programas face ao elevado número de candidatos”. Ao destacarem o papel fundamental que os cuidados de saúde primários têm no tratamento dos doentes respiratórios, as pneumologistas sublinham a necessidade de sensibilizar esses doentes para a possibilidade terapêutica da recuperação respiratória, sugerindo ainda a criação de programas de base comunitária, com parcerias com os cuidados de saúde primários. Considerada como “uma terapêutica basilar” na abordagem dos doentes respiratórios, não substituível pelo uso da medicação, a SPP lembra que a reabilitação respiratória apresenta inúmeras vantagens, “contudo, a acessibilidade continua a ser baixa e ainda há um longo caminho a percorrer”, insiste a SPP. No caso específico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), as especialistas salientam que a reabilitação respiratória é uma terapêutica com uma excelente relação custo-eficácia, melhor do que a própria terapêutica farmacológica, sendo apenas ultrapassada pela cessação tabágica e vacinação anti-gripal. “Apesar de não recuperar a função respiratória, permite a melhoria sintomática e da qualidade de vida relacionada com a saúde e da tolerância ao esforço. Contribui, igualmente, para a redução dos episódios de agravamento da doença respiratória, dos custos relacionados com a saúde e, possivelmente, da mortalidade”, explicam Susana Clemente e Inês Faria. Por exemplo, “no doente cirúrgico, esta intervenção no período peri-operatório diminui a ocorrência de complicações pulmonares pós-operatórias, a duração de internamento e os custos relacionados com a saúde”, acrescentam. Sendo algo visto pelas profissionais de saúde como uma “necessidade”, relembram que em 2019 foram publicadas orientações da Direção Geral da Saúde (DGS) sobre os programas de reabilitação respiratória nos cuidados primários. A SPP diz que, nos últimos dois anos, marcados pela pandemia de covid-19, o cenário da fraca acessibilidade dos doentes aos programas de recuperação respiratória foi agravado e que a maioria dos serviços que prestam este serviço encerraram temporariamente ou diminuirão a sua capacidade de resposta. Segundo as pneumologistas, “esta situação deveu-se, não apenas à necessidade de medidas de controlo de infeção mais restritivas e/ou recolocação de profissionais de saúde na prestação de cuidados a doentes com COVID-19, como também ao aumento dos candidatos a programas de reabilitação respiratória, que passaram a incluir doentes com incapacidade funcional por COVID-19”. A SPP considera, por isso, fundamental assinalar o Dia Nacional da Reabilitação Respiratória para lembrar os doentes, as suas famílias e os profissionais de saúde dos benefícios da reabilitação respiratória, reforçando que “há ainda muito trabalho a ser desenvolvido em conjunto por vários setores da saúde para que a oferta desta terapêutica seja adequada às necessidades daqueles que dela necessitam”.

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