Jornal Médico - Dermatite de contacto alérgica ocupacional por medicamentos

O simpósio “Dermatite de contacto alérgica – da relevância pessoal à ocupacional”, integrado no programa do dia 8 de julho da Reunião da Primavera, foi promovido pelo Grupo Português de Estudo das Dermites de Contacto (GPEDC) da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV). Esta sessão, moderada por Martinha Henrique e Teresa Correia, contou com um painel de três preletoras, cada uma das quais debateu um tópico específico no âmbito das dermatites de contacto. Margarida Gonçalo, do Serviço de Dermatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, trouxe a abordagem "Dermatite de contacto alérgica ocupacional por medicamentos". Nas palavras de Margarida Gonçalo, que é assistente hospitalar graduada sénior de Dermatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), as dermatites de contacto alérgicas (ACD: sigla em inglês que significa allergic contact dermatitis) ocupacionais ocorrem, sobretudo, em trabalhadores da saúde, em cuidadores de doentes, que, no manuseamento da medicação, acabam expostos aos fármacos, e em profissionais da Indústria Farmacêutica, nomeadamente os que têm contacto direto com medicamentos, mas também os intermediários da síntese dos fármacos. “Um estudo do grupo belga de Leuven (2001/2019) aponta uma proporção de 13% dos trabalhadores da área da saúde que estão sensibilizados a fármacos de uso sistémico, sobretudo tetrazepam (já não está no mercado) e a ranitidina”, acrescentou Margarida Gonçalo, adiantando que “já existe uma lista com 20 fármacos identificados como potenciais alergénios de dermatites de contacto ocupacionais”. Sobre o caso específico de propacetamol, Margarida Gonçalo recorda que, “há uns anos, houve necessidade de mudar a composição de paracetamol endovenoso, que obrigava à junção do excipiente e do fármaco ativo". O excesso, “que contaminava as mãos de quem manipulava estes produtos, induziu múltiplas reações de dermatite de contacto ocupacional a propacetamol”, salientou. “O tetrazepam – uma benzodiazepina, atualmente já não comercializada em Portugal – “também induziu múltiplas reações adversos em enfermeiros e/ou cuidadores que fragmentavam o fármaco para administrar aos doentes.” Um caso de dermatite de contacto alérgica por antibióticos numa enfermeira foi o que motivou Margarida Gonçalo a explorar mais este tópico. “Após uma bateria de testes (série básica, luvas), foram realizados os testes com medicamentos, que revelaram ACD para cefalosporinas. A dermatite de contacto ficou resolvida com a evicção de cefalosporinas”, adiantou. Quanto aos opioides, Margarida Gonçalo lembra que estes medicamentos administrados topicamente podem induzir reações de contacto, inclusivamente ocupacionais. O trabalho “Occupational contact dermatitis caused by opioids: A case series”, de Ursula Flury et al., publicado em 2019, “reportou 11 casos de ACD, com reações cruzadas entre vários opioides”. “Na Indústria Farmacêutica e na síntese química, estão descritos vários casos de dermatite de contacto alérgica, retardada e nas formas imediatas, com ranitidina e omeprazol”, completou. A título de curiosidade, Margarida Gonçalo menciona que antes das corridas de cavalos, e com o intuito de evitar úlceras gástricas causadas pelo stress, são administradas doses elevadas de ranitidina e omeprazol aos animais, recorrendo-se a seringas, que são introduzidas diretamente na boca dos cavalos. “Os tratadores acabam por desenvolver uma dermatite de contacto a estas substâncias administradas aos cavalos, com lesões nas mãos, lesões ectópicas ou lesões airborne”, afirmou. Além das ADC, “existem as dermatites fotoalérgicas, que podem ser causadas por fármacos como ketoprofeno, com o qual existe a possibilidade de reação cruzada com os filtros solares, nomeadamente, a benzofenona, octocrileno e resíduos de benzofenonas”. O fenofibrato, que é usado de forma sistémica, “também poderá estar associado a reações de fotossensibilidade sistémica”, devido “às semelhanças químicas entre estes produtos”. “Os eczemas de contacto ocupacionais por fármacos provavelmente não serão muito frequentes, mas talvez porque estão subdiagnosticados”, considera Margarida Gonçalo. “Além da dermatite de contacto alérgica, com as várias apresentações, podemos ter dermatites de contacto fotoalérgicas e erupções medicamentosas. Além dos profissionais da saúde, devemos pensar em outros trabalhadores, como tratadores de cavalos ou veterinários. Além das reações cruzadas, temos de estar atentos à sensibilização cutânea e ao aparecimento de reações adversas a fármacos que podem limitar a utilização de certos medicamentos”, finaliza a dermatologista. Saiba mais na versão impressa do Jornal Médico - 133.

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