Jornal Médico - Estudo observacional ISTO reportou benefícios da terapêutica moderada-intensiva com estatinas em prevenção primária

“ISTO Study - Intensive-intermediate Statin Therapy Observational study” é o título de um trabalho apresentado em formato de e-poster por Joaquim Meireles-Brandão, durante a reunião ESH 2023. Veja o vídeo com as declarações do médico a propósito deste estudo observacional que, durante duas décadas, caracterizou a evolução do perfil lipídico e risco cardiovascular de doentes em prevenção primária. O abstract do trabalho “ISTO Study - Intensive-intermediate Statin Therapy Observational study”, apresentado recentemente em formato de e-poster na 32nd European Meeting on Hypertension and Cardiovascular Protection, refere que “as modificações do estilo de vida são frequentemente insuficientes para reduzir o risco cardiovascular (RCV) em doentes com dislipidemia”. Por este motivo, Joaquim Meireles-Brandão, em conjunto com três médicos – Lúcia Meireles-Brandão, Rui Coelho e Francisco Rocha-Goncalves – também eles docentes na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), decidiram conduzir um estudo observacional, com o intuito de caracterizar a evolução do perfil lipídico e risco cardiovascular de doentes em prevenção primária. Este estudo retrospetivo incluiu uma amostra de 516 doentes, com, pelo menos, dois fatores de risco pessoais e/ou familiares para doença cardiovascular, os quais foram acompanhados por um período superior a dois anos, entre 1995 e 2015. O estudo ISTO, que avaliou “o doente na sua globalidade”, contemplou uma abordagem da doença metabólica – um conceito que, segundo Joaquim Meireles-Brandão, inclui um conjunto de condições como a dislipidemia, a diabetes, a obesidade ou a hipertensão. Conforme esclareceu o docente na FMUP e autor principal deste trabalho, “a terapêutica hipolipemiante com estatinas (intensiva-moderada) foi iniciada precocemente” nestes doentes, que foram acompanhados durante 11,4 +/- 4,3 anos. Ao longo de duas décadas, o estudo mostrou melhorias significativas no perfil lipídico, com alterações medianas no C-LDL e C-HDL de -77 mg/dl e +19 mg/dl, respetivamente. De acordo com Joaquim Meireles-Brandão, “os valores de C-HLD inferiores a 60 mg/dl correspondem a um fator de risco cardiovascular”. E, ao contrário do que se pensava, valores muito superiores a 60 mg/dl de C-HDL, à luz da evidência atual, não conferem proteção adicional a nível cardiovascular. “Até há pouco tempo, julgava-se que quem tinha valores de C-HDL ≥100 mg/dl estava protegido, dado que o HDL era considerado o ‘bom colesterol’. Isto é errado, porque veio a constatar-se que quem tinha valores de HDL mais elevados também estava em risco de sofrer eventos cardiovasculares.” Qual o impacto da lipoproteína(a)? Joaquim Meireles-Brandão foi também o autor de um outro estudo, intitulado “Lipoprotein (a): Treatment In The Metabolic Context”, que foi também apresentado pelo médico na 32nd European Meeting on Hypertension and Cardiovascular Protection, que decorreu de 23 a 26 de junho, em Milão. Em entrevista, registada em vídeo, o médico, que é também docente na FMUP, indicou que o estudo procurou analisar o impacto da terapêutica de combinação na gestão dos níveis de lipoproteína(a), em doentes com elevado risco cardiovascular e em prevenção primária. O médico referiu que “a terapêutica hipolipemiante”, designadamente com estatinas, “reduziu significativamente os níveis de Lp(a)”. O médico lembrou que a Lp(a) deverá fazer parte do “painel de alterações lipídicas e metabólicas” que são avaliadas. No trabalho, apresentado em formato de e-poster, os autores mencionam que, tendo em conta que “a Lp(a) é um indicador-chave de risco vascular”, esta deveria “ser incluída como alvo do tratamento de combinação”. Aliás, a este propósito, o trabalho refere que, além de um estilo de vida saudável, a prevenção primária deverá incluir “uma estratégia farmacológica de combinação”, que seja dirigida “aos múltiplos fatores de risco cardiovascular”.

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