Ordem dos Médicos
O bastonário da Ordem dos Médicos negou hoje razões sindicalistas no apoio à greve dos médicos e disse que o que faz está previsto nos estatutos deste organismo, nomeadamente defender a saúde, os doentes e o sector.
José Manuel Silva reagia desta forma às acusações do Ministério da Saúde de uma alegada colagem da Ordem dos Médicos aos sindicatos.
Para o bastonário, o apoio da ordem está inscrito nos estatutos deste organismo e também no código deontológico dos médicos.
“O Ministério da Saúde faz acusações e furta-se ao diálogo”, disse.
José Manuel Silva congratulou-se com “a adesão muito elevada” que este protesto estará a ter, mas ressalvou que o principal objectivo da greve foi “colocar os assuntos da saúde na ordem do dia”.
Questionado sobre a resposta dos doentes aos efeitos desta greve, o bastonário disse que estes “percebem as reivindicações dos médicos”.
Sobre a ausência do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) nesta greve, José Manuel Silva disse que “os médicos estão unidos, porque assinaram o mesmo caderno reivindicativo”.
“O SIM é que acredita que ainda é possível o diálogo. Quem nos dera que fosse verdade”.
Sobre os recentes anúncios do ministro da Saúde de uma alegada cedência a algumas reivindicações, o bastonário esclareceu que a última versão do código de ética ainda não é conhecida, mas que a anterior mantinha a “rolha”, embora disfarçada.
Relativamente à abertura de vagas para concursos médicos, o bastonário ressalvou: “os concursos não beneficiam os médicos. Nós pedimos concursos para beneficiar os utentes, porque são estes que precisam dos médicos”.
FNAM
A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) estima que a adesão à greve dos médicos esteja hoje a rondar os 90 por cento a nível médio nacional.
Num comunicado distribuído às redacções, o Ministério da Saúde escusou-se a dar informação sobre a adesão à greve, lembrando: “os únicos dados rigorosos sobre a participação na paralisação são os que resultam do processamento salarial deste mês, pelo que se revela necessário aguardar alguns dias pelo apuramento a realizar por todos os serviços, hospitalares e outros”.
O Ministério da Saúde adianta ainda que as estimativas avançadas pela FNAM revelam “uma impossibilidade aritmética pelo simples facto de que há uma parte dos médicos, os que trabalham nos sectores privado e social, que não faz greve”.
Mário Jorge Neves, dirigente da FNAM, disse hoje aos jornalistas que há serviços e unidades de saúde nos quais os valores de adesão à greve estão a ser superiores aos da paralisação de há dois anos.
“O Ministério da Saúde não consegue apagar a realidade dos factos, os hospitais e os centros de saúde estavam desertos, às moscas”, declarou o dirigente sindical, que participa na concentração junto ao Ministério, em Lisboa, e que junta várias dezenas de clínicos.
Mário Jorge Neves está convicto de que a generalidade dos cidadãos compreende e apoia esta greve, salientando que o protesto visa defender os interesses socioprofissionais, ao mesmo tempo que defende o Serviço Nacional de Saúde.
Região Autónoma da Madeira
O director clínico do Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, informou hoje que 43 médicos aderiram ao protesto convocado pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), não colocando em causa, no entanto, o normal funcionamento da estrutura.
"Nós avaliamos os colegas que estão em greve e são 43 o que dá, em relação aos médicos que estão neste momento no Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira, 7,9%", afirmou Miguel Ferreira.
Declarou ainda que "o bloco operatório está a funcionar em pleno, não tendo acontecido qualquer alteração", salientando que, "eventualmente, algumas consultas foram afectadas, mas nada de significativo".
O responsável considera que a greve "não tem qualquer expressão em relação ao funcionamento regular dos serviços".
Cerca de metade dos médicos dos hospitais de Évora e de Portalegre aderiu hoje ao primeiro de dois dias de greve nacional dos clínicos, segundo fontes sindicais e das administrações hospitalares contactadas pela Lusa.
Évora e Portalegre
Em Évora, a adesão ao protesto no Hospital do Espírito Santo (HESE) foi de 50%, até ao início da tarde, disse à Lusa fonte do gabinete de comunicação da unidade hospitalar.
A mesma fonte admitiu que a paralisação “teve um impacto significativo” no hospital, mas realçou que “todos os serviços estão garantidos”.
No Hospital de Portalegre, a adesão à greve também ronda os 50% neste primeiro dia, afirmou Hugo Capote, do Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS).
O bloco operatório daquela unidade hospitalar “só está a funcionar para urgências”, explicou o representante sindical, exemplificando ainda que “há consultas que não se estão a realizar”.
Fonte da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA), que integra os hospitais de Portalegre e de Elvas, referiu que a adesão à greve no conjunto destas duas unidades ronda os “40%”. Todos os serviços destes dois hospitais, frisou a fonte da ULSNA, estão a funcionar com “normalidade”.
Hospital de Santa Maria
Carlos Martins sublinhou que só mais ao final do dia será possível aferir com rigor quantas consultas e cirurgias ficaram por realizar devido a médicos que fizeram greve ou devido a doentes que não compareceram.
O bastonário da Ordem dos Médicos tem apelado aos utentes para evitarem ir às consultas ou realizar exames complementares de diagnóstico, nos serviços de saúde públicos, durante os dois dias de greve, “para evitar despesas e perdas de tempo desnecessárias”.
Questionado sobre uma quebra da afluência de doentes ao Hospital de Santa Maria no dia de hoje, o responsável admitiu que há “menos pessoas nos corredores e nas salas de espera”.
“De alguma forma, sentimos que o apelo [do bastonário] teve efeito, mas origina um esforço acrescido dos médicos para recuperar os doentes que não foram atendidos porque o médicos estava em greve, mas também recuperar os que que não foram por causa do apelo”, disse.
Carlos Martins sublinhou que os profissionais vão ter uma “taxa de esforço adicional” para recuperar o trabalho perdido e que o contribuinte “vai pagar duas vezes”.
“Paga primeiro porque não tem o serviço e paga depois com os impostos as horas extraordinárias ou a produção adicional dos médicos para recuperarem estes dias”, acrescentou.
Sobre a greve, o responsável afirmou respeitar esta forma de protesto e os profissionais que a ela aderem, mas admitiu não concordar com os motivos que estiveram na base da sua convocação.
Afirmando que houve sempre abertura do Ministério da Saúde para negociar, bem como “partilha de documentos e possibilidade de discutir”, Carlos Martins considera que os argumentos do sindicato “não são argumento bastante para uma greve de dois dias”.
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