
O Governo oficializou hoje a transferência do Hospital de São João da Madeira para a gestão da Misericórdia local e a assinatura do respetivo protocolo foi marcada por um protesto popular "de luto" promovido por um movimento cívico.
Enquanto que no edifício da Santa Casa o acordo era assinado por provedor e representantes do Governo, na rua cerca de 100 pessoas associavam-se ao Movimento Cívico em Defesa do Hospital numa "manifestação de luto pela morte" daquele equipamento hospitalar - cuja manutenção sob administração do Estado foi reivindicada numa petição subscrita por 9.265 cidadãos.
O secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira, garantiu, no entanto, que a transferência teve em vista os interesses da população.
"As poucas vozes que ainda não sabem isso vão sabê-lo dentro de pouco tempo. O Estado não se demitiu [da sua responsabilidade] e encontrou a forma de garantir um melhor direito da população à Saúde", disse.
O presidente da Administração Regional de Saúde do Norte, Álvaro Almeida, reforçou a mesma ideia: "Este é um bom acordo, em primeiro lugar para a população de São João da Madeira, porque os cidadãos da cidade vão passar a ter acesso a um conjunto de serviços que até agora só eram prestados [no Hospital da Feira] no Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga".
O responsável referia-se ao anunciado reforço dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, a três novas consultas de especialidade (cardiologia, gastroenterologia e pneumologia), à criação da valência de cirurgia de internamento e ao alargamento da consulta aberta de forma a que essa funcione "24 horas por dia, sete dias por semana, para atender a situações agudas" - sendo que o protocolo também dá abertura à Misericórdia para que futuramente possa criar uma Urgência.
Álvaro Almeida mencionou depois a segunda vantagem da devolução do Hospital à Santa Casa, declarando que ela constitui também "um bom acordo para os contribuintes, porque irá gerar uma poupança de 2,6 milhões de euros, mais do que 25% da despesa atual" que o Governo tem com o equipamento.
A nova gestão da unidade entrará em vigor a 1 de janeiro de 2016 e o provedor da Misericórdia local, José Pais Vieira, realçou que "o hospital continuará integrado no Serviço Nacional de Saúde [SNS]", vendo alargada a sua área de influência aos "275.000 habitantes do Entre Douro e Vouga" e passando a atender também beneficiários da "ADSE, companhias de seguros e outros subsistemas de saúde".
Para Ricardo Oliveira Figueiredo, presidente da Câmara Municipal, a transferência agora consumada representa "o melhor de dois mundos: uma gestão de proximidade e a permanência no SNS".
O autarca admitiu que "a Santa Casa não fará num dia aquilo que se destruiu em nove", desde que em 2006 o hospital começou a perder valências e recursos, mas acredita que a sua gestão trará ganhos de qualidade ao serviço e facilitará a concretização de um objetivo já delineado: "Ter a nossa Urgência referenciada no INEM".
Para os manifestantes "em luto", por sua vez, as figuras que assinaram o protocolo "vão ficar conhecidas como os coveiros do Hospital de S. João da Madeira".
O líder do movimento cívico em defesa daquela unidade clínica, Ricardo Silva, defende que a Misericórdia "não tem competência técnica nem financeira" para gerir a unidade, pelo que Governo, Santa Casa e Câmara se limitaram a "dar o hospital de mão-beijada a qualquer grupo económico privado" que irá depois fazer a distinção entre "utentes de primeira e de segunda - sendo que os de segunda são os do SNS, a quem o hospital vai dar tratamento diferenciado no acesso os cuidados de Saúde".
Argumentando que o protocolo hoje assinado e válido até 2025 representa para o hospital "uma morte que contou com a conivência da autarquia, que andou a negociar o acordo à socapa", o líder do protesto rematou: "Só os irmãos e irmãs da Misericórdia é que certamente terão muito por que agradecer à Câmara e ao Governo, pelo negócio que vão fazer com a entrega do hospital aos privados".
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