
A diretora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Amélia Ferreira, defendeu hoje a necessidade de “repensar a estratégia para o numerus clausus” como forma de garantir a formação especializada aos médicos.
“As pessoas entraram no curso de medicina com expectativa de prosseguir uma carreira de especialização após os seis anos. Tem de se lhes ser garantida essa formação pós-graduada, que é algo que está em risco”, afirmou a diretora da FMUP.
A responsável afirmou que “desde o ano passado [2014] que tem pairado o risco de não ser possível que todos os estudantes que terminam o curso de medicina possam fazer a sua especialização a seguir. E, sem a especialização, os médicos ficam muito limitados”.
Amélia Ferreira, que falava à Lusa a propósito do seu primeiro ano de mandato à frente da FMUP e dos 190 anos da então da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, considerou que este é um aspeto que tem preocupado as faculdades de medicina nacionais e que, por esse motivo, “tem de ser acompanhado politicamente”.
“Há um número de candidatos muito superior às vagas que tem havido”, frisou, referindo que aos estudantes das faculdades portuguesas juntam-se outros que fizeram os seus cursos de medicina fora do país, mas que pretendem aqui fazer a sua especialização.
Considerou, por isso, fundamental que “os governos se preocupem com a qualidade da formação dos profissionais de saúde, realizando avaliações corretas e adequadas aos cursos”.
“Precisamos, da parte da tutela, de sinais positivos para continuar com a nossa missão”, acrescentou.
Amélia Ferreira que tomou posse do cargo a 14 de novembro de 2014 disse que este foi “um ano de muitos desafios, que irão continuar”, nomeadamente em termos orçamentais, mas congratulou-se por a sua equipa ter “assumido esses desafios com entusiasmo, motivação e muito empenho”.
“Até ao momento tem permitido assegurar a qualidade daquilo que assumo como principal missão da FMUP, que é a formação de médicos. O Mestrado Integrado em Medicina tem sido salvaguardado ao máximo, mas tenho muita preocupação em termos destas restrições orçamentais”, disse.
Esses constrangimentos condicionam “o incremento que deveria ser dado a algo que é extremamente importante do ponto de vista dos indicadores de qualidade da própria instituição, que é a formação pós-graduada, o apoio aos mestrados, o apoio aos doutoramentos e o apoio a desenvolvimento de áreas de investigação científica que podem ser inovadoras”, frisou.
“Também ao nível dos financiamentos para a investigação tem havido dificuldades enormes, com restrição muito grande dos projetos, apesar de neste momento o desafio do Norte 2020 e do Horizonte 2020 estar a motivar os nossos docentes na apresentação de múltiplos projetos, com um acréscimo de envolvimento, de trabalho e de empenho muito grandes”, afirmou.
Amélia Ferreira considerou que a diminuição da capacidade de investimento das instituições é preocupante, “porque apesar do funcionamento base se poder continuar a assegurar, as instituições deixam de ter capacidade de investimento e, assim, o desenvolvimento tecnológico, o desenvolvimento dos processos, não se consegue”.
“Há um aspeto que me preocupa imenso que é a diminuição da capacidade de contratar gente nova, renovar os nossos quadros docentes, porque estamos extremamente limitados pelas condições orçamentais”, frisou a responsável.
Amélia Ferreira, a primeira mulher a dirigir a Faculdade de Medicina do Porto, sucedendo a Agostinho Marques, disse ainda que neste ano ocorreu “uma responsabilização dos departamentos que constituem a faculdade para serem parte ativa na gestão da instituição. Neste momento, temos praticamente concluído o processo de autonomia departamental que é crucial”.
A responsável aposta “na estratégia de angariar financiamentos”, mantendo a perspetiva de “transformar o conhecimento em valor para a instituição” e manifestou "uma preocupação de interface com a sociedade, com aquilo que a Medicina pode prestar em termos de responsabilidade social, é algo que é relativamente novo nas instituições de ensino superior e que tem tido um desenvolvimento importante, que nos tem gratificado muito”, disse.
Neste seu primeiro ano à frente da FMUP foi criado o Centro de Simulação Biomédica da faculdade, que Maria Amélia Ferreira, considera um "passo intermédio para um projeto maior, o Centro de Simulação Biomédica do Norte", que resultará de uma parceria entre a faculdade e o Centro Hospitalar de São João.
No passado dia 29 de outubro foi também criado o Centro Universitário de Medicina (CUME) da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do Centro Hospitalar São João, que visa “potenciar o melhor que as duas instituições têm”.
A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto foi, pelo oitavo ano consecutivo, a mais procurada entre as escolas médicas do país.
Lusa
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