
Fundada em 1891, a MSD liderou verdadeiros marcos civilizacionais: a primeira antitoxina contra a difteria, as primeiras vacinas contra a varíola, papeira e sarampo, a estreptomicina e a vitamina B1 sintetizada, todos inscritos na lista de medicamentos essenciais da OMS. São dela, também, a primeira das tiazidas e a primeira estatina, entre centenas de medicamentos inovadores que alteraram radicalmente o curso de inúmeras doenças e permitiram salvar incontáveis milhões de vidas. Uma História de sucessos que se vão repetindo até aos nossos dias e que se projeta no futuro. Imuno-oncologia, hepatite C e novos antibióticos de uso hospitalar são algumas das novidades de um pipeline que soma atualmente mais de 6 dezenas de novos medicamentos. Em entrevista ao nosso jornal, Vítor Virgínia, diretor-geral da MSD Portugal traça o perfil “genético” de uma companhia que aposta na inovação.
JORNAL MÉDICO | 125 Anos a inovar não é acaso: é genético! É assim que a MSD se identifica?
Vítor Virgínia | A inovação faz parte do ADN da MSD e está presente em tudo o que fazemos.
Temos a ambição de sermos melhores todos os dias. Ao longo dos nossos 125 anos de história, a MSD tem-se pautado sempre pela inovação, graças à dedicação e profissionalismo dos nossos colaboradores, parceiros e do nosso compromisso diário em encontrar novas formas de responder às necessidades médicas não satisfeitas.
JM | Se tivesse que selecionar um “top ten” das descobertas da MSD, qual seria?
VV | Numa empresa tão inovadora como a MSD é difícil selecionar um “top ten” de descobertas, simplesmente porque ao longo dos 125 anos da companhia foram muitos mais os medicamentos que revolucionaram a prevenção e o tratamento de alguns dos desafios mundiais de saúde mais urgentes.
Apenas para referir algumas das mais recentes descobertas:
Mudámos a forma de tratar a doença cardiovascular com as estatinas, Mevacor e Zocor, assim como a hipertensão arterial com Cozaar. Revolucionámos o tratamento das doenças respiratórias com o Singulair e com o Aerius. Fomos pioneiros no tratamento do VIH com o desenvolvimento de um dos primeiros inibidores da protease, tendo mantido o nosso compromisso nesta área com a descoberta do primeiro inibidor da integrase, Isentress. Temos sido historicamente uma das empresas decisivas na descoberta de antibióticos. O Bridion, um reversor do bloqueio neuromuscular, tem permitido revolucionar o ato anestésico em diversos tipos de cirurgia.
Já neste século, demos um grande avanço no tratamento da Diabetes com o Januvia e Janumet, e, perante o flagelo da doença cardiovascular em Portugal, trouxemos produtos (ATOZET, INEGY e EZETROL) que comprovadamente reduzem os enfartes e os AVC isquémicos em doentes de alto risco cardiovascular.
A lista é extensa e contamos acrescentar mais nomes em breve, nomeadamente nas áreas de Imuno-oncologia, Hepatite C e antibióticos.
A MSD tem colaborado na resolução de outros problemas de saúde, como aconteceu recentemente com a vacina para o Ébola e não gostaria de esquecer o Mectizan. O prémio Nobel da Medicina de 2015 foi atribuído ao Prof. William C. Campbell pelo seu trabalho de investigação deste fármaco. É justo recordar que a MSD criou o Programa de Doação de Mectizan, uma iniciativa que, em mais de 25 anos de existência, já erradicou a Cegueira dos Rios em quatro países e chega a 250 milhões de pessoas todos os anos, sendo atualmente o programa de doação de um medicamento para doenças específicas mais longo da história.
JM | I&D é uma aposta com muitos riscos que a MSD insiste em enfrentar. Quanto custam os insucessos que permitem, uma vez em muitas, acertar no alvo?
VV | Por norma, é preciso analisar cerca de 10 mil substâncias, para que uma chegue aos doentes. Mas essa é a nossa missão e é nesse sentido que trabalhamos diariamente em toda a estrutura da companhia: garantir mais e melhor vida às pessoas. Ocupamos o 12.º lugar no ranking mundial de empresas que mais investiram em I&D em 2013. Só em 2014, a MSD gastou mais de 7 mil milhões de dólares em I&D. Em termos globais, a MSD investe em cada ano cerca de 17% da sua faturação nesta área.
JM | Um risco particularmente elevado quando se cobre um conjunto alargado de áreas terapêuticas. Quais são as principais áreas em que estão a trabalhar?
VV | Um dos focos claros é disponibilizar terapêuticas inovadoras na área da oncologia. O cancro é uma das grandes ameaças à saúde pública no século XXI e a MSD quer estar na linha da frente na luta contra esta patologia.
Estamos dedicados ao desenvolvimento de uma nova área terapêutica, a Imuno-oncologia: uma área inovadora no tratamento do cancro que recorre ao sistema imunitário do próprio doente no combate às células cancerígenas. Vários especialistas a nível mundial encaram este tipo de tratamento como revolucionário e acreditamos que esta nova geração de medicamentos venha a alterar o paradigma do tratamento oncológico.
Paralelamente, assumimos também como prioridade o combate à Hepatite C, onde temos terapêuticas inovadoras com resultados muito positivos, bem como nas áreas de diabetes e antibióticos.
JM | Têm um dos mais robustos pipelines em I&D. Quais as expetativas de lançamento a curto/médio prazo?
VV | Temos já alguns medicamentos no nosso pipeline internacional que foram considerados por entidades internacionais como avanços significativos, que são mesmo classificados como soluções disruptivas, e que esperamos conseguir disponibilizar em breve no mercado Português. Refiro-me às áreas de Imuno-oncologia, Hepatite C e Antibióticos onde certamente teremos novidades ainda este ano.
JM | Inovação é um conceito difícil de transmitir, mais a mais quando o “tempo” da investigação, particularmente a translacional, é inconciliável com a “urgência” que hoje é valorizada pela comunicação. Como ultrapassam este obstáculo?
VV | O que determina a nossa “urgência” não é a comunicação, mas as necessidades dos doentes em todo o mundo. O nosso foco está sempre no doente e no seu acesso à terapêutica.
O que move os nossos esforços de investigação é a “urgência” desses doentes e das suas famílias, e acho que isto é o que deve ficar claro.
Vamos continuar sempre na procura dos melhores tratamentos. A nossa ambição é ajudar a tratar as doenças que colocam em risco a própria vida no curto prazo e em que não existem alternativas de tratamento.
JM | As restrições à comunicação com o grande público constituem uma limitação injustificada? Quais os limites que considera justificados e os que julga que extravasam o aceitável?
VV | A MSD cumpre os requisitos legais e regulamentares que, acreditamos, são estabelecidos para proteção do doente e consumidor. Respeitamos assim as restrições que nos são impostas e não sentimos que tal afete o nosso trabalho. Contudo, consideramos essencial que os doentes saibam da existência de novas terapêuticas e estejam informados sobre os últimos avanços científicos.
JM | Investigar em Portugal é difícil? Quais os principais entraves?
VV | Existe muita investigação de qualidade hoje a nível nacional. Portugal é reconhecido a vários níveis como um pólo de talento e criatividade em investigação científica e inovação em farmacologia. Contudo, existem naturalmente as restrições ao trabalho, derivadas de questões económicas de anos recentes, que limitam em vários aspetos a quantidade e velocidade da nossa investigação.
Portugal tem apresentado uma evolução notável neste domínio e é-me grato reconhecer que também ao nível dos profissionais de saúde e dos hospitais portugueses a investigação é, cada vez mais, uma prioridade assumida.
JM | A pressão dos custos – ou da contenção da despesa – é um obstáculo à inovação?
VV | O custo é a doença, não é a cura ou o tratamento.
O foco no preço, apesar de compreensível, é levantado apenas por considerações orçamentais.
Os fármacos inovadores geralmente levam a uma realocação de recursos, por exemplo, retirando a necessidade de cirurgias, ou atrasando a morbilidade e mortalidade.
No caso português, estudos como o Health at a Glance da OCDE indicam que a despesa com medicamentos está substancialmente abaixo da média dos países parceiros com que nos comparamos.
A saúde é uma área em que claramente devem ser evitados cortes cegos. Cortar no curto prazo pode acabar por ser uma causa de maior despesa no médio prazo.
JM | Como se traduz, neste âmbito, “custo/benefício”?
VV | O verdadeiro custo para a sociedade está relacionado com a prevalência das doenças, não com o custo dos produtos inovadores. Devemos olhar para o verdadeiro impacto de uma nova terapia no orçamento de saúde a longo prazo.
A inovação farmacêutica tem de ser avaliada tendo em conta o impacto alargado da doença na sociedade, que além de custos de tratamento inclui custos de cuidados, da perda, de perda de produtividade por doença, entre outros.
JM | É comum a ideia de que os medicamentos chegam a Portugal com atraso. É mera perceção ou reflete a realidade?
VV | Há estudos que apontam nesse sentido. Recentemente a EFPIA publicou o Patient WAIT indicator (Patient Waiting for Access to Innovative Therapies) no qual Portugal apresenta uma taxa de disponibilização dos novos fármacos de 58,7%, com uma demora média de 651 dias. Esta é uma questão preocupante porque estamos a falar do acesso dos portugueses às melhores terapias.
JM | Quais os principais obstáculos que enfrentam no processo de entrada no mercado de um novo medicamento?
VV | Antes de mais, é importante referir que a previsibilidade deveria ser uma caraterística fundamental do sistema. As regras devem ser claras e cumpridas por todas as partes, em termos de procedimentos e prazos.
Portugal tem evoluído no bom sentido neste domínio. O SiNATS pode dar um contributo adicional em clareza e celeridade dos processos de entrada no mercado.
É importante que haja um número adequado de avaliadores para as diversas áreas terapêuticas, que as competências dos diversos intervenientes no processo sejam claras e que os prazos sejam cumpridos.
JM | É difícil “negociar” com o Estado Português?
VV | Sempre considerámos o Estado português nosso parceiro, nunca um obstáculo. Ao longo dos nossos quase 50 anos de presença no país, temos sido sempre um parceiro da saúde dos Portugueses e do SNS. Acreditamos também ser vistos pelo Estado Português como parte da solução e não do problema.
JM | Para além da investigação de novos medicamentos, a MSD tem também no seu código genético o assumir Responsabilidade Social. Como se traduz esta vocação?
VV | Promovendo literacia em saúde e debatendo questões de fundo relativas ao setor, bem como contribuindo com inovação para o tratamento de doenças que afetam pessoas em todo o mundo.
Queremos que as pessoas todas vivam mais e melhor. Assim, é indispensável uma preocupação constante com o que fazemos e com a nossa responsabilidade perante a sociedade.
JM | Que projetos desenvolvem em Portugal?
VV | Em Portugal a MSD é associada da EPIS – Empresários pela Inclusão Social –, porque acreditamos que é fundamental o desenvolvimento, incubação e internalização de novas metodologias de promoção do sucesso escolar, da qualidade dos sistemas de ensino e formação, e da empregabilidade e inserção profissional dos jovens em Portugal.
Outro exemplo do qual temos extremo orgulho é o nosso conhecido Manual MSD que disponibilizamos de forma gratuita, a nível mundial, desde 1899.
Também temos websites dedicados a informar doentes sobre patologias concretas como o controlaradiabetes.pt, o doimeascostas.pt ou o contraceção.pt.
A título de exemplo refiro a colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian em dois dos seus projetos mais relevantes em termos de saúde: o combate à diabetes e a luta contra as infeções hospitalares.
Localmente, apoiamos vários projetos no âmbito da responsabilidade social, para referir alguns, o projeto Cais Buy @ Work do qual muito nos orgulhamos nasceu com o apoio da MSD, somos parceiros na atribuição do Prémio Dignitas em Jornalismo de inclusão e promovemos o Prémio Maria José Nogueira Pinto em responsabilidade social.
JM | Que iniciativas vão assinalar os 125 anos de existência da MSD?
VV | O marco do nosso 125.º aniversário vai ser assinalado ao longo do ano em paralelo com as nossas restantes iniciativas. Queremos que os valores, inovação e perseverança que caracterizaram a nossa história sejam consolidados em tudo aquilo que fazemos hoje e daqui em diante. Tivemos já oportunidade de celebrar internamente este marco histórico e esperamos ter várias iniciativas externas. Perdoem-me a imodéstia, mas não posso deixar de realçar que os nossos resultados têm por base uma equipa de excelentes profissionais, em termos de competências técnicas, relacionamento interpessoal e padrões éticos de comportamento.
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Qual é a relação entre medicina e arte? Serão universos totalmente distintos? Poderá uma obra de arte ter um efeito “terapêutico”?