O especialista João Gorjão Clara defendeu hoje a criação de consultas e unidades de internamento em Geriatria em todos os hospitais do país para dar “uma resposta mais adequada” aos problemas dos doentes idosos. As declarações surgem no âmbito da realização do 12º Congresso Internacional da Sociedade de Medicina Geriátrica da União Europeia, que decorre de 5 a 7 de outubro, em Lisboa, sob o tema “Descobrindo novos caminhos no mundo da Geriatria”. O objetivo do encontro é “procurar novos caminhos, novas informações, novos processos e dar melhor assistência e acompanhamento aos idosos”.
Gorjão Clara, um dos principais impulsionadores deste ramo de Medicina em Portugal, criou, em 2011, uma consulta multidisciplinar de geriatria, que funciona no Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), onde se procura responder de forma mais global ao doente. Há ainda a possibilidade de se marcar nesta consulta uma visita domiciliária, na qual se dá apoio terapêutico, mas também se procura detetar fatores de risco de acidentes domésticos e dar conselhos sobre alimentação, entre outras intervenções.
Para o coordenador da Unidade Universitária de Geriatria da Faculdade de Medicina de Lisboa e coordenador do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, esta consulta devia funcionar em todos os hospitais do país, tal como deviam ser criadas Unidades de internamento em Geriatria.
“É preciso replicar esta consulta por todos os hospitais e é preciso que todos os hospitais sintam a necessidade de criar Unidades de geriatria, de 15, 20 camas, onde os doentes geriátricos tenham apoio e a possibilidade de ter otimizada a sua assistência, como acontece, por exemplo, há mais de 30 anos em Espanha e nos Estados Unidos da América”, defendeu.
Atualmente, apenas existe uma Unidade de Internamento em Geriatria, que abriu este ano no Hospital de Vila Franca de Xira. Entretanto, também abriram consultas multidisciplinares de Geriatria naquele hospital, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, e num hospital particular de Lisboa.
O especialista explicou que os pacientes geriátricos “são os doentes mais complexos dos idosos”, têm múltiplas doenças, “mais deterioração intelectual e física e, muitas vezes, com problemas sociais”, situação que implica decisões difíceis.
“São estes doentes que são internados nas unidades de geriatria”, e que constituem “uma pequena porção dos doentes idosos que chegam ao hospital”, sublinhou.
Dados compilados pela Pordata revelam que o número de pessoas em Portugal com mais de 65 anos duplicou em relação aos anos 70 e é hoje superior a dois milhões, tendo a população com mais de 80 anos aumentado cinco vezes. Gorjão Clara salientou que o envelhecimento da população "é uma realidade indiscutível", para a qual "os hospitais e os médicos têm que estar preparados".
Idosos precisam de assistência médica própria
O médico Gorjão Clara defendeu hoje que, tal como as crianças, os idosos também precisam de ter assistência médica própria, alertando para a necessidade da geriatria ser implementada em Portugal face ao envelhecimento crescente da população.
“Hoje a esperança de vida é muito mais alta do que era há 30 anos e os hospitais e os médicos têm que estar preparados para essa realidade que é diferente”, afirmou acrescentando que o “grande desafio” é conseguir “otimizar a assistência aos idosos”, o que implica uma “assistência própria”, que “justifica a existência da geriatria”.
“Assim como as crianças têm que ter uma abordagem própria, porque as suas doenças são de determinado tipo e prevalência, e a maneira como devem ser tratadas tem de ser condicionada pela imaturidade do seu sistema biológico”, os idosos também precisam, porque estão numa “fase tardia da evolução biológica”, que também condiciona a prevalência e a manifestação das doenças e a opção e abordagem terapêutica.
Gorjão Clara sublinhou que é “um desafio enorme que se levanta a todos”, porque obriga “a refazer” as prioridades da medicina tradicional que tem sido as pessoas de meia-idade.
Os idosos são hoje os “maiores consumidores de medicamentos” e os que estão internados nos hospitais em maior número, disse, advertindo que esta população está a crescer e a sociedade tem de preparar-se para isso.
Além da necessidade de se otimizar a assistência aos idosos, é preciso criar “condições sociais” que melhorem a sua qualidade de vida e que passam por adaptar as cidades e os hospitais a esta realidade.
Citou como exemplos as cidades terem de ter “pisos regulares para que o idoso não tropece e não caia”, bancos onde possam descansar, casas de banho próximas, sombras nas paragens dos transportes e escadas rolantes no metro até à superfície.
Por outro lado, exemplificou, os hospitais que se constroem não podem ter as características de hospitais como o de Santa Maria, que foi construído há mais 50 anos e em que a média de idade das pessoas internadas na altura era de 45, 50 anos e hoje é de 80 anos.
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