Jornal Médico - Saúde planetária e "One Health": Um convite à ação global

Leia o artigo de opinião da autoria de Lúcio Meneses de Almeida, médico assistente graduado de Saúde Pública e presidente do Conselho Nacional de Ecologia e Promoção da Saúde (CNEPS) da Ordem dos Médicos, sobre a proteção e promoção da saúde das populações. O tema será mote do evento "One Health", organizado pelo CNEPS, que pretende ser um espaço de debate aberto ao público em geral, a decorrer no mês de junho, em Coimbra. Desde Hipócrates que o ambiente físico é reconhecido como determinante da saúde humana. Atribui-se, muito justamente, aquele que é considerado o Pai da Medicina, o pioneirismo no âmbito da epidemiologia – designadamente, nas suas áreas ambiental e clínica. Sendo instrumental à prática da Saúde Pública, a epidemiologia visa identificar associações entre exposições e resultados em saúde. Proteger e promover a saúde das populações implica aumentar a sua exposição a fatores protetores da saúde e diminuí-la perante fatores identificados como de risco de doença. A globalização iniciada pelos portugueses de Quinhentos, ao dar “novos mundos ao Mundo”, tornou o planeta uma aldeia global. Se, por um lado, aproximou povos e respetivas culturas e economias, por outro tornou emergente a Saúde Global. No presente, as novas tecnologias são indissociáveis do crescimento económico – e, por consequência, da saúde e do bem-estar. Já a Revolução Industrial, iniciada em Inglaterra na segunda metade do século XVIII, configurou uma das maiores agressões à saúde pública. Fruto de condições laborais e de vida altamente precárias, houve cidades inglesas em que a esperança de vida da população retrocedeu a valores medievais… A resposta consistiu na “Revolução Sanitarista” e na assunção do dever de os Estados intervirem na salvaguarda da saúde dos povos. Organizaram-se, desta forma e em meados do século XIX, redes de serviços operativos de saúde pública - correspondentes, no nosso País, às delegações e “subdelegações” de saúde e, nos países anglo-saxónicos, aos “boards of health”. Assim como “houve povos sem médicos, mas nunca houve povos sem Medicina”, também sempre houve Saúde Pública, na perspetiva da intervenção organizada em prol da saúde de todos. Pelo menos, desde o advento das primeiras cidades, há milhares de anos. As “posturas” municipais são disso exemplo no Portugal medieval. Dois séculos decorridos da Revolução Industrial, a poluição atmosférica tornou-se uma das maiores ameaças à saúde da população mundial. E com ela as alterações climáticas, associadas a fenómenos meteorológicos extremos e à expansão potencial das doenças vetoriais. Recentemente, emergiu o conceito de “One Health”. Sendo a saúde humana, a saúde ambiental e a saúde animal interdependentes, só podemos falar numa saúde. Este conceito encontra-se estreitamente relacionado com o da Saúde Planetária. De facto, a “saúde” do planeta Terra determina a saúde da população mundial. Por conseguinte, “tratar” o planeta (ambiente global) é promover a Saúde Global. O que era, até há bem pouco tempo, uma área de intervenção virtualmente exclusiva, no que ao universo médico diz respeito, da especialidade de Saúde Pública, tornou-se igualmente património das especialidades clínicas. O ambiente, enquanto determinante de saúde, entrou na agenda de médicos hospitalares e de outras áreas de exercício profissional médico. Sendo a Ordem dos Médicos responsável por assegurar uma prática médica de qualidade e de, em simultâneo, fazer a advocacia da saúde dos portugueses, dificilmente se podia alhear da realidade epidemiológica global. Dentre as atribuições do seu Conselho Nacional de Ecologia e Promoção da Saúde (CNEPS), inclui-se a articulação com a sociedade civil, através de entidades (associações e outras) organicamente estabelecidas. Desta forma, o CNEPS encontra-se a organizar um evento, que se pretende ser um espaço de debate aberto ao público em geral, subordinado à “OneHealth”. Será no próximo mês de junho, em Coimbra. Inspiremo-nos, enquanto médicos e cidadãos, em São Francisco de Assis, protetor dos animais e da ecologia: há que começar por fazer o que é necessário, depois o que é possível e, sem que nos demos conta, estaremos a fazer o que julgávamos impossível!

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